Livro aborda cor e espaço da capoeira em Alagoas

Denis Angola é capoeirista licenciado em Dança pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Neste sábado (08) ele lançará seu livro Urucungo: Dança negra, Encruzilhada branca na Novo Jardim Livraria e Café. A entrada é gratuita e o evento começas a partir das 19h.

O livro é resultado de uma intensa pesquisa, mas também de vivências pessoais, inquietações políticas e epistêmicas a respeito do entendimento da corporeidade na dança, lutando para que o universo acadêmico contemple raízes não europeias e significados culturais diferentes.

“A capoeira não estava lá” diz sobre sua graduação que iniciou em 2007 “comecei a pesquisar a capoeira enquanto dança, apesar de ser uma gama de coisas: ela é luta, música, movimentação cultural, cultura negra, mas também é dança. Queria propor ao curso que a gente pudesse pensar a capoeira enquanto dança para trazê-la para o universo acadêmico.”

Ao longo do seu percurso profissional, Denis levou a capoeira ao exterior – viveu na Finlândia como mestre – e registra também, com detalhes importantes, a inserção da capoeira no campo da educação alagoana, nuances do preconceito e o contexto do racismo. “Você pode trazer um Berimbau, mas não pode trazer um Atabaque”, diz o pároco que chama capoeiristas para ensinar jovens em uma igreja. Essa é a interface do racismo alagoano explorada pelo autor.

Denis relembra da expulsão de um colega professor de uma escola estadual por uma diretora evangélica que interrompeu as aulas sem explicação, deixando aproximadamente 50 alunos sem acesso à dança. A resposta foi uma Roda de Capoeira que parou o eixo-viário Fernandes Lima, um dos maiores de Maceió que ironicamente leva o nome do racista que promoveu o evento histórico chamado Quebra de Xangô (1912), um movimento de perseguição as religiões de matriz africana.

Aqui, capoeira e protesto há muito tempo andam juntos. Mas destaca a contraditória presença da arte em projetos como o Escola Aberta e outras iniciativas notáveis na capital alagoana.

“Percebi que todos os autores que falavam sobre o corpo e sobre os movimentos eram intelectuais brancos, eram os únicos ofertados na graduação. Isso me gerou uma crise muito grande. Como pensar que eu, um homem negro, vindo do Jacintinho, capoeirista, iria estudar o corpo no lugar da negritude para colocá-la no lugar da performance, no lugar das artes cênicas? Como pensar isso se eu só lia autores brancos? A Universidade nos coloca nesta encruzilhada branca.”

“Meu livro é uma tentativa de mostrar para essa branquitude intelectual que nós, pessoas negras, produzimos conhecimento e que temos tão vasto conhecimento quanto eles. Porém nós não estamos em um lugar de privilégio. Esse lugar de privilégio branco, por exemplo, de termos que estudá-los, mas não poder questionar é muito ruim.

“Tudo bem estudar sobre o branco e seu lugar de entendimento do corpo, o problema é não ter acesso a outros tipos de pensamento, outros povos pensando sobre o corpo. Tinha que estudar aquele autor clássico, branco, europeu falando sobre seu entendimento do corpo. Alguns professores defendiam a tese de que ‘a dança não tem cor’, mas eu dizia que a ela tem cor, cheiro, espaço, tem dimensão”.

O questionamento levantado por Denis Angola demonstra a problemática de inserção da negritude e da representação negra em espaços acadêmicos e culturais. Para ele, ser um intelectual negro em Alagoas:

“É um desafio, um lugar de resistência. As pessoas negras deveriam escrever sobre suas histórias, assim como os indígenas. Mas por muito tempo Alagoas, na literatura que fala sobre o negro alagoano, são pessoas brancas falando. Fomos tratados como folclore e não o conhecimento do próprio povo falando sobre suas experiências, de ser gente. A gente está inserindo nosso pensamento a partir da nossa realidade. Eu, por exemplo, a partir da capoeira, trago no meu livro a experiência dos mestres para levar o conhecimento da educação da capoeira.”

Informações:https://www.instagram.com/p/CjTq-tYLOIg/

Novo Jardim Livraria e Café
☎ (82) 99649-1376 / (82) 99934-1362

Uma resposta

  1. Meu nobre parente a capoeira tem suas raizes indigenas no museu de Palmeira do Indios tem um caxixi ancestrais dos Xukurus Karirs dai da regiao onde mostra o caxixi sendo de origem indigena o berimbau deriva de beriba, arvores litorania do nordeste a qual deu origem ao berimbau, os canticos da capoeira e a propria roda é de matrizes indigenas os africanos que aqui chegaram dersm suas contribuiçoes para a capoeira porem, nao foi eles que criaram e trouxeram para Pindó eles aprendera a capoeira conosco.

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