Uma história do PCR, o Partido Comunista Revolucionário, por Magno Francisco

Magno Francisco, filósofo e historiador alagoano

O ano de 2014 marcou os 50 anos do Golpe Militar. Diante desta data, os debates. sobre os diversos aspectos da Ditadura Militar se intensificaram no país, influenciando de maneira decisiva na escolha do Partido Comunista Revolucionário (PCR) como objeto de estudo da presente pesquisa.

A criação da Comissão Nacional da Verdade, através da Lei 12528/11, instituída em 16 de maio de 2012, com o objetivo de investigar as violações aos direitos humanos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988, impulsionou também as pesquisas dentro e fora da Academia sobre a Ditadura Militar.

Dessa maneira, multiplicaram-se Comissões da Verdade nos Estados, municípios, universidades e sindicatos, ampliando-se em grande medida o debate sobre o período.

Documentos das organizações que participaram deste momento histórico, documentos dos órgãos de repressão, depoimentos de personagens atuantes neste período e acervos particulares começaram a tornarem-se acessíveis e a integrar os arquivos públicos.

A presente pesquisa também integra esse movimento de ampliação das pesquisas sobre a Ditadura Militar.

O acesso à várias informações fundamentais para este trabalho só foi possível devido às pesquisas realizadas pela Comissão Nacional da Verdade e as Comissões da Verdade de Pernambuco e de Alagoas.

Apesar do aumento da produção acadêmica em torno do tema da Ditadura Militar no Brasil, poucas pesquisas tratam da história do Partido Comunista Revolucionário.

Na Universidade Federal de Alagoas, apenas uma pesquisa trata da história do PCR. Trata-se do livro A Mitologia Estudantil, do professor José Alberto Saldanha de Oliveira, que analisa o movimento estudantil universitário da UFAL durante a Ditadura Militar e aborda a atuação do PCR entre os estudantes universitários.

O PCR foi uma organização política surgida durante a Ditadura Militar, que apresentou uma característica muito peculiar, limitou sua área de atuação ao Nordeste brasileiro e compreendia que era exatamente essa região, o Nordeste, a área principal da revolução brasileira, de onde se deveria partir o movimento de derrubada da Ditadura Militar.

É possível que por este motivo, por não ter atuado principalmente no eixo Rio – São Paulo, a sua trajetória tenha sido pouco estudada na academia brasileira.

O Partido Comunista Revolucionário é uma das poucas organizações políticas criadas durante a Ditadura Militar que não foram liquidadas e mantém sua atuação até os dias atuais.

O fato de ser uma organização política que sobreviveu à Ditadura Militar e mantém a sua atuação, apesar do assassinato de vários de seus dirigentes, é outro aspecto que acrescenta valor a esta pesquisa.

Somado a isto, o mais conhecido dirigente do PCR era o alagoano Manoel Lisboa de Moura, assassinado em 1973.

Apesar de toda a sua importância para o Partido, não há nenhuma pesquisa sobre a sua trajetória de vida, exceto as que tratam de alguma maneira do PCR, e como já abordamos aqui, são poucas.

A trajetória dos indivíduos, movimentos, grupos e partidos que se opuseram à Ditadura Militar constitui um valioso objeto de pesquisa.

Especialmente pelo fato de que as formas de luta para derrubar o poder militar e reconstruir a democracia foram diversificadas e, em muitos momentos, as divergências ideológicas e políticas provocaram conflitos acirrados.

Ao realizar esta pesquisa sobre a formação e a trajetória do PCR em Alagoas, pretendemos contribuir para preencher esta lacuna, mas também acrescentar elementos que possibilitem, cada vez mais, iluminar esse passado recente da nossa história.

O presente trabalho está dividido em três capítulos.

O capítulo 1, A década de 1960, Golpe Militar e fragmentação da esquerda, tem como objetivo debater a conjuntura política da década de 1960 no Brasil, buscando elementos para uma compreensão dos eventos que antecederam o Golpe Militar de 1964, assim como analisar os efeitos da implementação da Ditadura Militar.

O estudo da década de 1960, inclusive trazendo elementos da conjuntura internacional, possibilita uma investigação dos motivos que levaram a fragmentação da esquerda brasileira. Esse capítulo traz também para a pesquisa um olhar sobre a trajetória dos fundadores do PCR, todos imersos no fervor do acirramento das contradições políticas no Brasil durante a década de 1960.

O entendimento da trajetória de cada um dos fundadores do PCR indica elementos que influenciaram na fundação do partido.

O capítulo 2, A concepção programática do PCR: a escolha do nordeste como área principal da revolução brasileira, tem como centro a busca de elementos que motivaram o PCR a formular que a área principal da revolução brasileira seria o Nordeste.

Algo que destoava de todo o restante da esquerda.

Neste sentido, foi feito um balanço da trajetória das Ligas Camponesas e de sua relação com militantes que fundaram o PCR.

No capítulo também há um estudo das razões que provocaram a ruptura com o PC do B. Todos estes elementos foram analisados também sob a ótica dos efeitos dos eventos internacionais para a esquerda brasileira.

O capítulo 3, Análise da atuação do PCR, traz uma investigação sobre a trajetória do Partido, principalmente em Alagoas, observando o seu papel na resistência à Ditadura.

O capítulo também traz um balanço das ações armadas do PCR e a relação entre orientação programática e ação militante.

Além disso, este capítulo dá ênfase na ação repressora da Ditadura Militar contra o PCR e busca compreender como se deu a morte dos dirigentes do Partido e as prisões dos militantes.

O livro pode ser adquirido em versão digital no site da Editora Phillos: https://www.editoraphillos.com/magno-francisco-da-silva

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