As
memórias da juventude brasileira de outrora entram em conflito com a juventude
de hoje. Os esforços impressos pelos jovens do Brasil de antes não fazem mais
sentido para a juventude de agora. O que acontece? Qual o contexto da juventude
emergente que a torna tão complexa e paradoxal?
Complexa, pois nasce rodeada de dispositivos que fazem conexões com diferentes
tipos de mídias e fontes de informação; paradoxal, pois a “natureza”
questionadora da juventude se tornou pouco desafiadora aos olhos dos que
enfrentaram estruturas sociais tão rígidas no passado.
Os olhares jovens veem o futuro com pouco os quase nenhum anseio de
transformação. Secou as fontes das indignações e o presente parece exigir atenção
demais para entender o passado e almejar algo no futuro. Mil vezes sentar e
assistir vídeos na internet do que ansiar por leituras mais abrangentes do
mundo em que se vive.
A profunda melancolia que perpassa as mentes jovens e uma aparente apatia desmedida
paira naquilo que fundamenta um comportamento “isentão”: já não se
engaja, pois as coisas são como são e não há perspectiva de mudança e já não se
atenta, pois já não podem decidir.
Se as grandes ideologias e as grandes ideias que fundamentavam a vida moderna
se foram com a pós-modernidade, a energia da iniciativa está desacreditada
pelas condições materiais e subjetivas a qual estamos submetidos no mundo de
hoje.
Um imperativo rodeia o imaginário do jovem: o consumo. Este compõe desde muito
cedo as relações, os grupos, as amizades e a capacidade de estar visível
socialmente. Sem consumo não há possibilidade de participação, de inovação
de si e da própria estética. As lojas fazem o intermédio com o
“crush” e os “contatinhos” pois é “cool” aparecer
perfeitinho a cada “stories”. As curtidas são o reforço para a
repetição frenética de consumo e divulgação de um suposto poder de compra, nem
sempre verdadeiro.
Um barulho é feito pela enorme quantidade de propaganda que acomete os ouvidos
e os olhos, apelando para a única possibilidade de existir no mundo: seja uma
pessoa que consome. Além disso? Se preocupar com o que? Somos todos humanos e
todos temos problemas. Infelizmente, para sobreviver, é preciso não pensar em
ninguém.
Compartilhar a vida é o que se pode fazer, tateando a escuridão da infinidade das linhas do tempo. A solidão assola como nunca antes. Os influenciadores digitais vivem a vida que todos queríamos ter: recebendo, aleatoriamente, os mimos, a fama, criando virais e disseminando memes.
Para
além desse fatalismo que oprime as mentes jovens está a teia que compõe a
história. Comporão, nos livros e registros futuros, as descrições de um momento
marcado pela absoluta falta de vontade de viver, pois o mundo do consumo os
engoliu e o mundo do trabalho os domesticou.
É chato ser jovem hoje em dia, pois sorrir e
transformar o mundo em meme é uma estratégia para disfarçar o nervoso gerado
pelo precário universo que nos condena a levar nas costas os erros históricos
desse país. É preciso sorrir de tudo, pois logo a frente falta oportunidades,
trabalhos dignos, lazer e cultura. O resto é live-action da Disney, compondo a
tessitura da indústria cultural em um monopólio arrasador, colonizando mentes
onde o Capitão América salva vidas sob a insígnia do capital acima de tudo.
Para além do capital haverá quem, ou o que?
2 respostas
Maravilhoso esse artigo.
Olá, como vai ?
vi sua puplicação e achei que poderia ser pertinente
colocar no meu site:
.
link do site, ou copie e cole:
http://planosdesaudehdm.com.br
.
Um grande abraço.