'Nudson morreu como bandido em Alagoas', diz família

Dias após o crime, o delegado Paulo Cerqueira deu a versão do caso: um crime passional. Ele teria se envolvido com uma garota. E foi morto por um ex-namorado dela

E as instituições, estranhamente, não dão respostas.

No dia 3 de julho de 2009, Nudson Harley Mares de Freitas completava 15 dias em Alagoas. Já havia vindo ao Estado

Delegado Paulo Cerqueira: 1a versão para crime passional

dezenas de vezes. Funcionário da empresa Qualitec, prestadora de serviço para o Grupo Empresarial OAS. O advogado, que estava hospedado em um hotel, foi morto na avenida João Davino. A poucos metros dele estava o juiz Macelo Tadeu. Ambos estavam vestidos com roupas semelhantes: calça jeans e camisa polo.

Dias após o crime, o delegado Paulo Cerqueira deu a versão do caso: um crime passional. Ele teria se envolvido com uma garota. E foi morto por um ex-namorado dela.

Logo após, outra versão: Nudson foi morto por engano.

“Que foi engano não há dúvidas”, disse uma integrante da família de Nudson, que pediu para não ser identificada. Mas, aceitou conversar por telefone, sob anonimato- ela está em Minas Gerais.

De acordo com ela, a viúva montou escritório de advocacia com um dos filhos de Nudson. E vai forçar as autoridades locais a oferecem respostas.

“Não recebemos resposta de nada. Tentamos falar com o Ministério Público, que mantinha contato conosco. Todos fugiram. Sem oferecer respostas. A impressão que querem passar é de que não houve nada”.

“Nós falávamos com os promotores e os delegados do caso. Depois, nem eles ligavam nem eles recebiam as nossas ligações. Não nos atendiam”.

“Procuramos, então, a OAB de Minas Gerais. Mas, eles mesmos nos recomendaram que a gente jogaria dinheiro fora se contratássemos um advogado para um caso que está sendo conduzido em segredo de Justiça. Que, aliás, não sabemos porque está em segredo de Justiça”.

Veja trechos da conversa:

Por que a investigação virou “segredo de Justiça”?
Não sabemos de nada. Não tivemos acesso a nenhuma parte do processo.

E essa linha da investigação de que a morte de Nudson foi um engano?
Não tenho dúvidas. Foi engano.

Nudson tinha desafetos, inimigos?
Não, por isso não dá para imaginar em um crime encomendado. Desde o princípio a doutora Marluce [Falcão, primeira promotora do caso] falava nisso: morte por engano.

Essa semelhança com o juiz Marcelo Tadeu? Quando se olha as fotos, não se percebe isso.
De costas, os dois eram semelhantes. Não parecidos. Semelhantes. Mas, como digo: não tivemos acesso a nada. Por isso, não podemos dizer em tentativa de morte contra o juiz.

E esse envolvimento dele com uma garota alagoana?
Nada disso. Nudson era casado, pai de cinco filhos. Misturaram histórias. Disseram que ele tinha sido morto por um traficante, que era ex dessa mulher. Depois, me disseram que não tinha nada a ver porque essa mulher tinha outros homens. Uma história sem pé nem cabeça.

Os relatos falam de um vídeo. E, nele, há uma pessoa que vigia o hotel onde Nudson estava hospedado. Soube disso?
Sim, o delegado Paulo Cerqueira nos mostrou um vídeo em que aparecia um rapaz vigiando a área. Ele vai ao balcão de informações do hotel e conversa. Mas, ele está de olho na rua, como se esperasse alguém na rua. Agora, veja só: quando Nudson foi assassinado, um funcionário da OAS estava no local e quando viu o corpo no chão e as perfurações da bala, disse: ‘Foi a polícia que matou’. Por causa do tipo das balas, de pistola ponto 40.

E a família, como encara a morte?
Nudson morreu como um bandido em Alagoas. Pelo que vemos nos jornais, infelizmente, Alagoas é um estado assim. A mãe dele sofre. Escreveu uma carta para as autoridades locais. Nunca teve resposta. Alagoas é um dos piores estados do Brasil nisso. Pior que o Pará. Não se faz nada.

Um usineiro de Alagoas pediu para jantar conosco. Na conversa, propôs nos ajudar. Na nossa frente, ele ligou para o governador. Falava com alguém que parecia próximo ao governador. E a gente viu, pela mudança de expressão no rosto dele, um banho de água fria. Quando desligou o telefone, nos disse: ‘Nada vai trazer de volta a vida do seu irmão’. Eu volto a Alagoas em junho. Esse caso não vai ficar impune.

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