Ex-major Ferreira abre a “caixa-preta” do CCC


JC

Em quase quatro horas de depoimento, o ex-major da Polícia Militar de Pernambuco José Ferreira dos Anjos, respondeu, nesta quinta-feira (20), sobre a sua atuação na ditadura a serviço das Forças Armadas para os integrantes da Comissão Estadual da Verdade.

Ferreira afirmou que o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) em Pernambuco tinha a participação de empresários, comerciantes, estudantes universitários e policiais. Ele também revelou que dois oficiais da PM foram recrutados pelo DOI-CODI com a missão de “matar ou morrer” pelo regime. Segundo ele, Roberto Souza Leão, já falecido, teve a implantação de uma destilaria de álcool na Bahia aprovada pela Sudene graças ao apoio do ex-presidente João Batista Figueiredo. “Foi quando ele endinheirou-se, mas a destilaria nunca existiu”, afirmou.

“Biu do Álcool”, ex-comandante do III Exército, conhecido assim por supostamente contrabandear o produto, também integrou o CCC, segundo o depoente, que também afirmou que a proteção militar impediu que a atividade irregular lhe trouxesse problemas.

Para o presidente da Comissão Estadual da Verdade, Fernando Coelho, o relato de Ferreira foi um dos depoimentos mais importantes recolhidos até agora. “Ele teria mais contribuições a dar, mas revelou muitos pontos importantes que podem ser desenvolvidos ao longo de outras sessões”, avaliou Fernando Coelho.

Sobre as acusações tanto do atentado que deixou paralítico o estudante Cândido Pinto e a suspeita de assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, ambos em 1969, o ex-major deu respostas evasivas. Segundo Roberto França, um dos integrantes da Comissão, a memória de Ferreira era “seletiva”, acrescentando que o depoente só lembrava de nomes que já havia morrido.

O auditório do Banco Central ficou lotado para a sessão com o ex-major. Foi o maior público de todas as cinco sessões abertas realizadas pela Comissão Estadual da Verdade.

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