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Ética e Psicologia Antifascista

Quando escrevo sobre uma Psicologia Antifascista e utilizo símbolos antifascistas para propagar o que penso, não estou apenas utilizando ferramentas difusas para tratar de uma abstração sem fundamentos para agitar sem objetivos claros.

Pensar uma Psicologia Antifascista é propor, dentro do arcabouço da ciência psicológica, a intenção de uma práxis (veja aqui); que se estabelece a partir de uma intenção política de regredir a força psicossocial do fascismo enquanto expressão máxima do autoritarismo burguês na periferia do capitalismo (ver Florestan Fernandes).

A articulação do conhecimento psicológico como estratégia de cooptação das bases da força política proletária é a via estratégica da ofensiva burguesa para espoliar adesão massiva de trabalhadores.

Tomando como objeto a morfologia ideológica obscurantista do atual governo podemos supor que sua sustentação está em uma abordagem psicológica do “quanto pior melhor”. Cria-se aqui um cenário psicossocial que distancia a realidade material e política das pessoas em geral criando uma condição ideológica para a cisão entre ação política possível e ação política real.

Que fazer? Esta pergunta me moveu ao clássico livro de Lênin e que sem dúvida dá subsídios para toda e qualquer pessoa interessada na luta política da classe trabalhadora.

Ora, Lênin deixa claro neste livro o viés pedagógico da ação política nesta disputa assimétrica entre as classes. Para ele em uma educação política não basta explicar a opressão, mas fazer agitação a propósito de cada manifestação concreta desta opressão.

A agitação antifascista precisa ser aquela que torna a indignação um dispositivo de alerta contra as injustiças, denúncias que envolvem o elo entre consciência e materialidade histórica através dos fatos e acontecimento políticos concretos.

Para onde se desloca nossa agitação e quais os princípios que, enquanto psicólogos antifascistas, podemos seguir de maneira obstinada? O nosso Código de Ética nos norteia. Veja os princípios fundamentais do nosso código:

I – O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

II – O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.

IV – O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática.

 V – O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.

 VI – O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.

VII – O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.

Não só aderimos ao Código de Ética como condição para atuar e ser reconhecido como psicólogos, precisamos torna-lo práxis diária na agitação e na propaganda antifascista. A ética na profissão é nosso fortalecimento institucional e o pilar que sustenta nossa relevância social e política.

Notas sobre o Brasil

A Psicologia não está à disposição de todos por claras razões políticas que atravessam a saúde pública e interesses privados.

O arcabouço científico disponível pelo trabalho dos colegas de profissão que se dedicam a pesquisa e a atuação qualificada fora da academia também estão em disputa.

Logo, é clara a incapacidade de estarmos presentes junto à sociedade neste momento de crise e, apesar de ações paliativas, trabalho voluntário e divulgação de informação as pessoas seguem vivendo momentos de extrema angústia por questões socioeconômicas e por um clima psicossocial de desconfiança onde fakenews e discursos de ódio se aliam a propaganda política fascista para o cumprimento de uma agenda neoliberal genocida e sem controle.

O aparente compromisso das instituições burguesas brasileiras é fustigar a capacidade de movimentação política proletária pela seguridade social e pelos direitos duramente conquistados após inúmeras lutas e que se aliam gloriosamente as duras conquistas da luta dos trabalhadores ao redor do mundo.

A quem serve o desgaste e sofrimento psicológico do povo brasileiro?

Saiba mais:

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005. Disponível em:  <https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf>.

FERNANDES, F. Notas sobre o fascismo na américa latina. In: ______. Poder e contrapoder na américa latina. São Paulo: Expressão Popular, 2015.

LENIN, V. I. Que fazer?. 1902. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/lenin/1902/quefazer/index.htm>.

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