Educação aquém das metas

A questão que se coloca, neste momento, é como as 20 metas do novo PNE poderão contribuir efetivamente para atenuar o sombrio cenário da educação embora até aqui as análises precisem se restringir ao campo das intenções, pois ainda não foram testadas na prática (lembrando que, nesta, a teoria pode ser outra)

Ruy Martins Altenfelder Silva-Presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional e  do Conselho de Administração do CIEE e presidente da Academia Paulista  de Letras Jurídicas-Correio Braziliense

O Plano Nacional de Educação 2011-2020 já  começa com atraso. Enviado pela Presidência da República ao Congresso em  dezembro de 2010, teve a apresentação do parecer da comissão especial  da Câmara dos Deputados prorrogada no último dia 15 — dentro de um rito  que prevê, ainda, votação em plenário, apreciação pelo Senado e sanção  presidencial. Outro aspecto merece reflexão nesse processo de aprovação:  a baixa repercussão na sociedade de um plano que afetará, para o bem ou  para o mal, pelo menos as duas próximas gerações e constitui um dos  gargalos mal resolvidos do país.

O CIEE, que há quase meio século  cuida da inclusão profissional de jovens — e, portanto, atua na delicada  intersecção entre os mundos do saber e do fazer —, vem detectando a  constante queda de qualidade do ensino nas últimas décadas e sua  influência negativa na empregabilidade jovem, que hoje bate na casa dos  12,6% na faixa etária de 20 e 24 anos e dos 22,9% no segmento 15 a 17  anos, segundo o IBGE, em contraponto aos cerca de 6% registrado entre a  população economicamente ativa. E não é por falta de vagas, pois há  milhares delas não preenchidas por falta de candidatos adequados.

Olhando  o país como um todo, merecem elogio a universalização do acesso ao  ensino fundamental e sua extensão para nove anos; o recente (embora  ainda insuficiente) estímulo ao ensino técnico; a vinculação de  benefícios assistenciais à frequência escolar dos filhos; o ProUni; e  outras iniciativas que asseguram avanço na quantidade das matrículas nos  três níveis da educação formal. A questão que se coloca, neste momento,  é como as 20 metas do novo PNE poderão contribuir efetivamente para  atenuar o sombrio cenário da educação embora até aqui as análises  precisem se restringir ao campo das intenções, pois ainda não foram  testadas na prática (lembrando que, nesta, a teoria pode ser outra).

Entre  as metas, sete visam à valorização do professor, com iniciativas que  vão desde a ampliação para 75% do número de mestres e doutores no corpo  docente das instituições de ensino superior até a adoção de critérios  técnicos para a nomeação de diretores de escolas — hoje feita por  indicação política, planos de carreira, etc. Detalhe: o rendimento médio  do profissional da educação não poderá ser inferior ao dos demais  trabalhadores com escolaridade semelhante.

Com a questão  praticamente resolvida no ciclo fundamental, o PNE fixa metas para o  acesso à educação infantil e aos ensinos médio e superior — ponto em que  o otimismo sofre uma queda, considerando o balanço de resultados do PNE  atual. Por exemplo, aponta que 50% das crianças de até três anos devem  ter acesso a creches. Entretanto, esse mesmo patamar já constava do  atual PNE, mas o percentual concretizado não atinge 20%. O mesmo  documento previa a erradicação do analfabetismo entre os brasileiros com  mais de 15 anos até o final de 2010 — mas vergonhosa taxa ainda está em  9,7%. Isso sem falar do analfabetismo funcional e da incapacidade de os  alunos da 3ª série do fundamental de resolver continhas de somar ou de  interpretar um texto simples, por deficiência de leitura.

Também é  ausência notável no novo PNE uma menção à necessária reestruturação do  ensino médio regular, apontado por respeitados especialistas como ciclo  de estudo sem foco preciso, sendo quase um curso preparatório para o  vestibular, com excesso de matérias no currículo, em muitas das quais o  aluno não vê utilidade para sua formação, entre outros aspectos que  contribuem para inchar as taxas de evasão. Ponto positivo, entretanto,  para a expansão do ensino médio técnico, com a duplicação do número de  vagas, o que vem atender em parte à explosão da procura por parte de  jovens que concluem o fundamental e já estão de olho nas oportunidades  do mercado de trabalho.

Com sua permanente preocupação com o  futuro dos jovens, o CIEE só tem a aplaudir a estratégia 3.6 da Meta 3  do PNE, dedicada ao ensino médio. Ela consagra expressamente o estímulo à  expansão do estágio para estudantes do ensino médio profissionalizante e  regular, preservando seu caráter pedagógico e alinhando-o à grade  curricular da série em curso, “visando ao aprendizado de competências  próprias da atividade profissional, à contextualização curricular e ao  desenvolvimento do estudante para a vida cidadã e do trabalho”.  Exatamente o que ocorre com os programas que administra em total  sintonia com a Lei do Estágio (11.788/2008).

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