Burocracia e CNPJ barram pequenos empresários em linha de crédito

A linha de crédito anunciada pelo governador Renan Filho (MDB) para ajudar empresários mais atingidos pela pandemia anima menos que o esperado quem tem pequenos negócios ou empresas familiares e busca alternativas em tempos de circulação de pouco dinheiro.

No bairro de Ipioca, litoral norte alagoano, existem 143 comerciantes contabilizados pela associação dos moradores. Destes, 100 possuem CNPJ e 43 são informais.

Jasiel Pontes é dono de um açougue que funciona há 10 anos no bairro. Registrado como microempresa, não consegue acesso a empréstimos através da Desenvolve, a agência de fomento com linhas de crédito para empresários como ele. Motivo é a burocracia. E com a pandemia a maioria dos órgãos onde precisa conseguir a documentação exigida está de portas fechadas.

“E para poder tirar acima de R$ 26 mil tenho de colocar um imóvel como garantia que eles vão receber o dinheiro”, disse.

A renda mensal do açougue é de R$ 3.800 e cai ainda mais. “Estamos tendo uma queda significativa de 50%”, disse. Na pandemia, a forte alta da carne, o desemprego recorde e as incertezas sobre o valor do novo auxílio emergencial prejudicam pequenos comerciantes como Jasiel.

Com cada vez menos capital de giro, vai tentar a linha de crédito anunciada pelo governador, sem muitas expectativas.

“Vou tentar mais uma vez. Espero conseguir desta vez”.

Desafio do CNPJ

O casal Geferçon Lúcio dos Anjos e Anna Emília Brasil de Almeida saíram da cidade de Ilhéus, no sul da Bahia, em busca de novas chances em Maceió. Escolheram o bairro de Ipioca. Mês passado montaram um negócio de venda de acarajé na entrada do bairro.

“Percebemos que o acarajé vendido aqui é frito, diferente da Bahia”, disse Geferçon. Com investimento inicial de R$ 1.500 e um curso que fizeram com uma baiana, abriram o negócio. Os moradores gostaram. “Já temos clientes fiéis”.

Mas o casal estaria fora da linha de crédito oferecida pelo Governo alagoano para negócios como os deles porque ainda não registraram a empresa. Todas as contas para as linhas de crédito anunciadas na sexta-feira foram feitas para quem é, pelo menos, MEI (Microempresa Individual).

Assim, eles montam plano para o fechamento de todo o comércio, sem que isso signifique a falência do pequeno negócio.

“Eu pensei em fazer em casa e já estou passando meu número para os clientes para fazerem os pedidos. Como meus clientes estão próximos, posso levar andando”, articula Jeferçon.

Burocracia

Não é fácil conseguir uma linha de empréstimos via Desenvolve. São 29 exigências. Algumas simples (RG, CPF). Outras mais complexas (avaliação dos bens imóveis realizada por um profissional credenciado).

Mas, o Governo promete reduzir bastante a burocracia. A estratégia é a seguinte: injetar dinheiro na Desenvole para garantir as operações. Tudo será explicado pelos técnicos da agência de fomento na próxima segunda.

Basicamente, o que será cobrado é não estar no Serasa e nem no SCR.

Medidas

Medidas tributárias e de crédito anunciadas nesta sexta-feira prometem R$ 100 milhões para enfrentar os efeitos da pandemia entre os comerciantes.

A estimativa é um pacote de isenções tributárias de R$ 54,463 milhões; uma linha de crédito via Desenvolve de R$ 45,536 milhões, com seis meses de carência para a primeira parcela e juros zero, valendo também para microempreendedores individuais.

“Estamos entregando um pacote ao setor produtivo alagoano na ordem de 100 milhões de reais. Fizemos um estudo de verdade, como sempre fazemos, e fomos ao limite do que o Estado pode oferecer. Ainda temos um tempo de enfrentamento adiante e precisamos manter o Estado firme para não termos mais dificuldades ao enfrentarmos essa pandemia”, disse o governador.

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