Alta na violência escolar e os serviços de Psicologia

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Alta na violência escolar coloca em xeque o discurso corrente de que pandemia aumentou a busca por serviços de Psicologia.

Contradições importantes devem redirecionar este discurso quando observamos grupos sociais específicos ou regiões e estados mais carentes do Brasil, como é o caso de Alagoas. É necessário levar em consideração fatores que determinam o acesso ou não a serviços de saúde mental.

Um estudo realizado pelo Instituto FSB Pesquisa, em 2021, mostrou que 60% dos brasileiros que começaram a fazer terapia deram início ao tratamento durante a pandemia. As principais queixas eram ansiedade (53%), alteração de humor (42%) e insônia (41%). No entanto apenas 10% faziam consultas regulares com profissionais. A dificuldade de acompanhamento psicológico tem raizes financeiras.

Entre 35% e 45% das crianças e jovens brasileiros, dependendo da faixa etária, viviam com menos de US$ 5,50 ao dia em 2020. Se considerada a pobreza extrema (viver com menos de US$ 1,90/dia), eram cerca de 12%, de acordo com relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Em um estado pobre como Alagoas onde a renda per capita mensal é de R$ 935, bem menor que o salário mínimo nacional, o acesso a tratamentos personalizados em saúde mental é restrito a um grupo pequeno de pessoas quando se compara a capacidade financeira da maioria da população.

Crianças e adolescentes não brancos e quem vive nas regiões Norte e Nordeste foram mais afetados pela insuficiência de renda, em comparação com brancos e com as demais regiões do País, diz o Unicef. A pobreza monetária infantil é o dobro para não brancos e para moradores das regiões Norte/Nordeste em relação aos demais grupos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos. Em 2019, 14% dos adolescentes do mundo viviam com um transtorno mental sendo a depressão é uma das principais causas de doenças e incapacidade entre adolescentes.

Quando se trata de saúde mental, as condições socioeconômicas de grupos sociais inteiros precisa ser levada em consideração. Pobreza não se trata em terapia. No entanto, protocolos de combate à violência das escolas, além de individualizar responsabilidades e deixar de fora o grave problema de seguridade social, põe o foco em policiamento ostensivo, detectores de metal e revistas.

Como reflexo da crise generalizada em saúde mental, mas também financeira e social em um contexto pós-pandêmico a violência nas escolas também aumentaram.

O cenário, portanto, já era de crescimento da violência desde 2019. É o que divulgou o levantamento global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Os dados apontaram que escolas brasileiras eram ambientes mais propícios ao bullying e à intimidação do que a média internacional.

23% dos diretores brasileiros afirmaram testemunhar situações de intimidação, dobro da média da OCDE.

10% das escolas brasileiras pesquisadas registram episódios de intimidação e abuso verbal contra educadores

A Universidade Federal de Campinas (Unicamp) detectou em pesquisa o registro de ao menos 23 ataques em escolas brasileiras nos últimos 20 anos, todos com uso de violência extrema. Entre 2002 e 2023, 24 estudantes morreram além de quarto professores e dois profissionais da educação. A motivação dos crimes foram vingança, raiva e adesão a culturas extremistas.

O Governo de Alagoas divulgou o plano de ação para a segurança nas escolas. Confira:

PLANO DE AÇÃO – SEGURANÇA NAS ESCOLAS ALAGOANAS

Frente às ameaças de ataques às escolas, o Governo de Alagoas empreendeu uma série de medidas para fortalecer a segurança e tranquilizar a população. Seguem algumas destas ações:

  • No último dia 13, o governador Paulo Dantas anunciou um plano de ação para combater as ameaças e fortalecer a segurança nas escolas públicas e privadas de Alagoas, mobilizando as secretarias de Educação (Seduc) e de Segurança Pública (SSP). Entre as medidas anunciadas estão a criação de um Núcleo de Inteligência de Segurança Escolar e o reforço na Ronda Escolar, com guarnições da Polícia Militar percorrendo todas as unidades de ensino;

 

  • O Governo de Alagoas também disponibiliza os números 181 e 190 para que a população denuncie as ameaças/suspeitas de ataques, com os integrantes do citado Núcleo de Inteligência realizando reuniões periódicas para avaliar o alcance das ações;

 

  • Por outro lado, o governador também conclamou que pais e professores sejam parceiros destas ações, fazendo um apelo para que a população não divulgue notícias falsas, nem ameaças de cunho duvidoso veiculadas nas redes sociais, de forma a se evitar o pânico;

 

  • Paralelamente, a Secretaria de Educação também desenvolve ações no sentido de conscientizar pais, mães ou responsáveis acerca da importância do acompanhamento em casa, sobretudo na tarefa de filtrar aquilo que os filhos vêm consumindo pela internet;

 

  • Até o momento, 19 pessoas já foram identificadas e autuadas por criarem perfis na internet com o objetivo de propagar ameaças de ataques às escolas alagoanas. Contudo, nenhum ataque chegou a se concretizar no estado;

 

  • E as ações de cunho preventivo e educativo ganharam especial atenção. Elas acontecem graças à parceria entre a Seduc e a SSP, por meio do Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc), Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) e Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic), cuja Seção de Crimes Cibernéticos vem atuando diuturnamente no sentido de identificar e punir os responsáveis.

 

  • Além disso, a Secretaria de Educação vai realizar um Processo Seletivo Simplificado (PSS) para a contratação emergencial de psicólogos e assistentes sociais. A ideia é que estes profissionais trabalhem em diversas frentes de combate ao adoecimento emocional e promoção da qualidade de vida no ambiente escolar, sendo lotados em todas as Gerências Regionais de Educação.

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