Dia Mundial da Água: Vamos salvar o São Francisco

Eduardo Tavares é prefeito da ribeirinha cidade de Traipu

Hoje comemoramos o Dia Mundial da Água! A data é uma das mais importantes da atualidade e o Brasil está sediando o 8° Fórum Mundial da Água, entre os dias 18 e 23 deste mês! Muito bom! Excelente iniciativa!

Mas, na prática, o que o Brasil está, verdadeiramente, fazendo para preservar tão precioso líquido? Sinceramente, penso que nada! Nós nunca tivemos tradição no correto manejo da água! Nós não somos uma civilização hidráulica como a China, a Índia e o Egito, que trabalham muito bem com as nascentes, com os rios e lagos, fazendo, inclusive, transposições, mas, diga-se, com sustentabilidade!

Gente, os nossos recursos naturais são finitos e a nossa reserva de água doce no mundo não passa de 3% de toda água existente no planeta! A água, pois, será, em pouco tempo, muito mais importante do que o ouro e o petróleo! A população mundial assustadoramente cresce e, a cada dia, aumenta a sua escassez!

É lastimável que, em pleno século 21, o nosso País não cuide da natureza, dos nossos mananciais, dos nossos rios e lagoas, das nossas florestas, do meio ambiente, enfim!

É de fazer chorar a agressão sofrida pela floresta amazônica!

A impressão que temos é a de que as nossas autoridades não estão preocupadas com a proteção da nossa única morada: a Terra.

Sediar esse importante fórum discrepa do nosso comportamento frente ao tema! Não cola, não pega, essa falsa, essa aparente preocupação. Parece coisa de País corrupto querendo melhorar a sua imagem perante a comunidade internacional, não estou certo?

Passou o fórum, sumiu o assunto, não?

Gostaria, entretanto, de homenagear o Dia Mundial da Água fazendo uma crítica ao modo como todos nós temos tratado o Rio São Francisco, o chamado rio da Integração Nacional, o “Velho Chico”.

Digo todos nós o povo e, mormente, as indústrias, as cidades da bacia hidrográfica, os políticos e os governos. É duro observar um rio, que já teve, há quinhentos anos, cerca de onze mil metros cúbicos de deflúvio por segundo, hoje agonizar com uma vazão de quinhentos metros cúbicos por segundo!

O rio já morreu.

Só falta reconhecer essa verdade inexorável.

E a culpa é nossa, enfatizo, porque, desde o seu descobrimento, no ano de 1 501, temos desmatado suas margens, depositado dejetos em seu leito, realizado milhares de captações clandestinas e oficiais de água e modificado o seu curso com a construção de tantas hidrelétricas!

O pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, especialista no estudo das águas, tem afirmado, com frequência, que os rios morrem pela foz! É verdade!

É em sua desembocadura que percebemos o início da morte do rio! O nosso combalido “Velho Chico”, outrora conhecido como “rio dos currais”, porque suas margens, em uma extensão de cerca de 2.800 km, durante mais de duzentos anos, serviam basicamente para o plantio de pastagens para criação de gado, daí o termo “Rio dos Currais”, passou a perder volume constantemente, dia após dia, hora após hora!

Nascentes secaram e continuam secando, afluentes morreram e continuam morrendo, os aquíferos estão definhando e o rio entrou em seu chamado “estado senil!”

É exatamente esse o estado de saúde do São Francisco. Situação parecida ocorreu com o Rio Eufrates que, com idêntico caudal, foi, ultimamente, declarado morto!

É o homem acabando com o seu habitat. Pois é, meu povo!

O São Francisco perdeu a força de sua correnteza, a exuberância de suas águas, deixou de ser caudaloso, parou, também, de servir como hidrovia para o transporte dos produtos dos ribeirinhos!

“Bambás”, “xiras”, “mandins” e “surubins” não mais existem e, sem querer, o “mestre Lua” mente quando em sua canção diz: “o Rio São Francisco vai parar no meio do mar”. Pois é! Hoje ocorre o contrário! O mar invade um pedaço do rio! Fico pensando: será que o “Velho Chico” tem salvação? Beradeiro que sou, sofro junto com ele.

Às vezes tenho a sensação que o velho “Opará” geme, geralmente à noite, pedindo socorro e dizendo: “me acudam! Me salvem! Muita gente depende de mim! Eu tenho uma Nação para sustentar! A Nação franciscana!”

Pois é, “Velho Chico”, eu escuto o seu chorar. Eu também sinto a sua dor. Você tem nos dado tudo, fartura, riquezas e alegria, ou melhor, nos dava, e a gente? A gente só lhe toma. A gente só lhe agride e, ao que parece, a gente quer fazer secar a sua última gota d’água, numa demonstração absurda de desamor, de descaso e de desrespeito.

É, “Velho Chico”, eu assumo a sua indignação e apresento aqui o seu protesto, porque o protesto de todos nós ribeirinhos, de nada tem valido.

Que as nossas lágrimas sirvam pra encher o seu esvaziado leito.

Que as pessoas, de todo Brasil e do mundo, lancem, no Dia Mundial da Água, hoje, o brado da revolta. O grito de socorro. Quem sabe, com dedicação e atitude, o vejamos, um dia, pujante, forte, enchendo as suas várzeas e trazendo um novo horizonte pra quem de você depende.

Se você morre, “Velho Chico”, morremos nós, sertanejos, que já sofremos com a seca que nos castiga, com o calor que esturrica o chão! Se você morre, “Velho Chico”, morre a última esperança, do verbo esperançar, de milhões de homens, mulheres e crianças que hoje choram, choram e choram por você, meu “Velho Chico”. Vamos lhe salvar! Depende de nós!

É uma questão de ATITUDE!

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