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Voz de mulher no comando, #elenão

Comentários realçando preconceitos de classe e desinformação grossa em caráter histórico, político, cultural e identitário explodem na cara da sociedade brasileira, via redes sociais, provando que o processo educacional brasileiro gerou analfabetos de si mesmo, enquanto nação.

Mesmo nos que arrotam indignação, os rastros da alienação estão à mostra. Alienados, sim! E infelizmente isso não é um palavrão, ou ofensa, mas uma constatação que desqualifica a formação discursiva dos nossos letrados, e seria menos drástico se não o fosse.

De repente, os que estão acostumados a dependurar a vida e as histórias em cabides de emprego se tornaram ferrenhos acusadores da “corrupção” que grassa entre os “bandidos da esquerda”.

Oi? Quem está falando de corrupção, aqui? Os corruptos históricos! Aqueles que naturalizaram o próprio “jeitinho” de barganhar privilégios, porque entre os “escolhidos” pela genética, sobrenome ou espaço geográfico, podem ser beneficiados lindamente, entre risos e drinks.

Corrupção para eles é ver a voz dos excluídos na pauta do dia, em forma de políticas públicas, programas  e projetos sociais.

Porque o burguês privilegiado fica irritado com a transferência de renda do programa Bolsa Família e aceita sorrindo os privilégios pagos ao poder Judiciário? Porque naturalizou distribuir a riqueza pública com as castas transformadas em recanto de pseudo-deuses. E sonha ser um deles!

Ouvi inúmeros acusando os pobres de receberem os frutos dos seus “suores”, esquecendo que a mais-valia transferiu a força do trabalhador para a riqueza do patrão, logo, aquele não foi transformado em “pobre” pela justiça de Deus mas pela injustiça das desigualdades sociais.

Mas quem me disse isso? Karl Marx, ele mesmo! O perseguido teórico que desvendou o uso da estrutura pela manutenção da superestrutura, onde a alienação ideológica sustenta o invisível, e sufoca o tangível em condições de agonia.

Logo se diz que o “marxismo cultural” doutrina as pessoas, mas esquece de dizer que o capitalismo continua na base das desigualdades e corrompe os indivíduos desde o coração das engrenagens, tornando servis as instituições e legitimando as injustiças sobre as vidas reais.

Entre os “bandidos da esquerda” por certo estamos todos nós que acreditamos na diminuição das desigualdades, no crescimento das oportunidades, pela mobilidade social, empoderamento cultural e identitário. Nosso crime é provar que a sociedade pode agir de modo diferente, sim! Que os privilégios exacerbados representam crimes de lesa pátria, sim! Porque na margem morre de fome a criança e o idoso sem perspectiva, e na enxurrada das negativas de felicidade afogam-se nossos jovens, e a violência descendo em cascata faz o Brasil matar o Brasil, rotineiramente.

Mas quem se isolou nos muros altos do egoísmo patológico só consegue administrar bem o ódio aos vitimados do modelo de sociedade escolhido para o sucesso de alguns,  e por esse motivo, o analfabetismo histórico é postura de conveniência.

Amoral, é o que são! Porque conseguem isolar o mundo fora dos seus sítios de altos muros e se apropriaram dos instrumentos de poder impossibilitando outras participações. Com togas e carimbos, não toleram a mobilidade social abrindo frestas e levando negros e negras aos topos das escalas de emprego, vivências sociais e culturais, como resultado da política de cotas.

Se sentem roubados pela esquerda que dividiu parcelas ínfimas do poderio da direita com alguns excluídos, e abriu o discurso da liberdade para os oprimidos pelas tradições. Agora querem a revanche!

Já conseguiram um preso político, mas não vão conseguir tudo! Porque as mulheres brasileiras assumiram o leme da resistência e não queremos que o liberalismo assuma o rosto do fascismo diante do futuro dos nossos filhos e filhas,  netos e n etas. A hora de puxar esse véu é agora, e nossas mãos que tecem as lãs, costuram a tolha da mesa, cozinham o alimento e acariciam o ninho, também escrevem manifestos, relatam pesquisas, produzem artigos científicos, assinam decisões e seguram microfones, entre tantas outras ações, agora estão em riste, na cara do patriarcalismo conivente com os opressores: não! O projeto beligerante de sociedade não vai passar!

Nós não aceitamos mais a redução! Não nos limitamos ao fogão! Não acatamos discriminação!

Ao obscurantismo da elite, não!

Ao matador dos sonhos juvenis, dos amores livres, não!

Ao eco enfadonho da Idade Média, não!

Ao sangue jorrado de 64, não!

#Elenão

 

 

 

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