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O que o algoritmo quer de nós? Por Alessandra Buarque

Acho que cansei. A mente não consegue reter mais tanta informação. Preciso de uma pausa.

Nesses últimos dias me questionei sobre o excesso de informações que nos circulam e nos vitimam. E em qual tipo de pessoa estamos nos transformando.

Isso é sobre as redes sociais e o excesso de informações que chegam a cada minuto, e nós nos deixamos levar, sem fazer o crivo necessário. A sociedade capitalista enche nossos olhos, mentes e corações, com as melhores publicidades que o algoritmo pode nos oferecer, as melhores vidas e performances, e nós nem questionamos o quanto de mal isso nos faz.

Já parou para pensar nisso? Eu paro e vez ou outra me afasto e me forço a não acompanhar o ritmo que me querem imputar, à força.

O algoritmo das redes sociais passou a conduzir as nossas vidas, ditar regras de beleza, normas de convivência, e de como fazer amigos e influenciar pessoas, parafraseando o escritor Dale Carnegie. Basta uma conversa despretensiosa com alguém ou uma busca aleatória na internet que o algoritmo dita a nossa vida: o que devemos comprar, onde devemos comer, que músicas devemos escutar, quem devemos amar ou odiar, qual gênero de filmes assistir. Em que cursos devo me matricular para continuar sempre “bem” informada e “atenta” a cada novo detalhe que surge, que pode dar um “up” no meu negócio ou na minha carreira. A vida moderna se tornou o paraíso dos coach. Tem coach para solucionar tudo.

O algoritmo me aponta para qual lugar devo viajar nas férias, com as várias opções de hospedagem e os melhores roteiros turísticos, de preferência ressaltando aquele “point” da ocasião.

O algoritmo me diz que não posso ter excesso de peso, nem unhas curtas, nem lábios originais, nem a tez rugosa ou os cabelos prateados da maturidade, pois a “tendência” mercantilista é vender todo tipo de procedimento estético que o padrão social exige.

Seja bela, linda e magra, como a atriz de TV. O algoritmo só não me pergunta se serei feliz seguindo esse padrão, mas, para isso, o capitalismo tem a solução: vender remédios para a crescente ansiedade do mundo moderno.

Ninguém consegue ser feliz com o seu corpo, sua vida, seus amores e suas escolhas. O capitalismo se apropriou de tudo. Não pense, faça! O algoritmo dita a minha vida. Será que tenho saída?

Talvez o nome adequado nem seja algoritmo, mas, eu decidi por esse codinome. Agora, eu dito a regra, porque me peguei cansada desse excesso de tudo.

Eita, será que estou fazendo um texto panfletário contra as redes sociais? Poderia e deveria, mas não rende likes (risos).

A questão aqui é ficar atenta para não me deixar manipular pelas “belezas” e “sucessos” alheios que nos tornam reféns das vidas dos outros.

Por hora, não quero tanta informação pairando em minha mente. Não quero ter que estar constante e freneticamente alinhada e atenta às novidades. Quero fazer pinturas no papel, com lápis de cor, que eu adoro. Quero ler meus livros, sem dia ou hora para acabar. Quero cuidar das plantas, dos bichos de casa, das pequenas coisas que o algoritmo não pode interferir.

Ou será que pode?

Vejo pessoas adoecidas, reféns da sociedade do espetáculo. Sem saber que rumo seguir e sendo tragadas pela massa ensandecida por likes, disputando espaços nas redes sociais e nas produções teóricas que convidam a partilha de mais informação.

Mas, por que isso? Você não gosta das redes sociais? Sim, a tecnologia chegou para encurtar distâncias, promover encontros, e produzir informações em tempo real, mas, por outro lado, vem produzindo o aumento crescente de ansiedade nas pessoas. Ansiedade para produzir conteúdos para as redes sociais, ser e estar como as pessoas e vidas tão perfeitas nas telas dos celulares.

Acho que preferiria pausar um pouco o tempo.

Escolheria ter mais tempo para refletir sobre as informações, conhecer as notícias, sem que no minuto seguinte ela esteja obsoleta. Por isso gosto dos livros. Nunca estarão obsoletos. O que foi escrito registra o seu tempo histórico, social, cultural.

Cuidemos de nós, pois, estamos caminhando para um abismo de informações truncadas, textos mal escritos e mal interpretados, leituras curtas e rápidas, diálogos e debates cada vez mais polarizados e perigosos.

Sonhe, cante, dance, pinte, escreva, leia… Não se deixe levar pelo algoritmo que conduz as vidas na sociedade do consumo.

 

SOBRE O AUTOR

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