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Pauta para candidatos: pescadores das nossas águas

A importância de vez por outra saltar nosso círculo de convívio doméstico e conhecer outras paragens e suas comunidades se reflete em meus olhos a cada ida, a cada vinda do estado de Santa Catarina.

Pelas descobertas do que agrada e desagrada, pelas diferenças e similitudes, mas principalmente, pela estima que algumas comunidades de agricultores e pescadores que pude conhecer ou saber sobre, demonstram ter.

Impossível não analisar, estudar, tentar compreender o que gerou culturas distintas, relações e povos distintos no mesmo Brasil maravilhoso e diverso.

No contato com o peixe fresco da beira do rio na comunidade de Pescaria, lado norte de Maceió, vi o fio da conversa com Flávia e Dayane me levar a pensar…

Flávia me vendeu as pescadas brancas e enquanto limpava, abria um pouco daquilo que me interessava saber.

– As pessoas às vezes perguntam se nossos maridos são pescadores, e estão em casa dormindo enquanto estamos aqui vendendo o peixe. – Disse entre sorrisos partilhados por Dayane.

Claro! Para mim é muito comum que nós perguntemos isso, pois faz parte de uma imagem idílica criada sobre as sagas dos pescadores, com a família engajada na arte da sobrevivência. Não imaginamos o que de fato está acontecendo com as comunidades pesqueiras em Alagoas.

Ambas as mulheres jovens são vendedoras de peixe, em uma espécie de balança improvisada às margens da rodovia. Os pescadores repassam para elas o produto conseguido nos mares, e levam o sustento para suas casas em parca quantidade, o que estimo a partir do preço cobrado na revenda.

Segundo seus relatos, as mulheres dos tais desafiadores das águas turquesas do norte alagoano, não se estimulam ao trabalho de revender o produto dos próprios maridos, ao que Flávia acrescenta:

– Não é um trabalho fácil! Tenho que ter o peixe para vender, e nem sempre eles são conseguidos aqui. Acordo 3:30 da madrugada porque tenho filhos, e depois de preparar as coisas saio em busca do pescado.

A pergunta que não consegui calar:

– Os jovens de Pescaria estão se tornando pescadores?

– Somente um. Apenas o Careca é jovem daqui, que ainda quer pescar. Os outros querem o estudo, outras coisas fora dessa vida de pesca!

Em Santa Catarina conheci pescadores que são donos de restaurantes, e vendem o próprio produto a conferir valor digno.

Não tenho conhecimento de pescadores alagoanos que façam mais do que pescar e vender para atravessadores, hotéis e restaurantes, que compram barato e revendem a alto custo.

Será que você leitor alagoano conseguiria imaginar aquele pescador que você conhece como um empresário gastronômico respeitado no mercado?

A representação social do nosso pescador por certo é um dos fatores que desestimula seus familiares ao envolvimento com a atividade pesqueira, o que a médio prazo, talvez, signifique que não teremos pescadores em alto mar.

Estará a pesca artesanal entre as artes milenares em risco de extinção por falta de continuadores? E isto não deveria estar na pauta política dos nossos candidatos ao governo de Alagoas?

Não se trata apenas de alguém que tira o peixe das águas para a nossa panela, mas de uma atividade que é patrimônio cultural e histórico, de todos nós, povo praieiro dessa terra.

Quem olha para os pescadores das Alagoas com a importância que em verdade eles possuem?

Ainda barganhamos pelo barateamento dos seus produtos, desconsiderando todos os obstáculos vencidos por estes valentes; entre os quais podemos incluir a poluição das águas e o escasseamento dos peixes e moluscos.

Pela grandeza do significado do peixe em nossas mesas e do pescador em nossas águas, nós do blog sugerimos aos candidatos a governadores e também a deputados por Alagoas, que voltem seus olhares para estes mares e suas comunidades ribeirinhas, onde rios e mangues ainda sustentam algum fio de vida, e cheguem até seus habitantes.

Para Flávia e Dayane muitos fregueses bons de pagamento, aos pescadores mais visibilidade e reconhecimento da importância da pesca para a economia e a cultura das comunidades e para nós alagoanos, mais responsabilidade na escolha daquelas e daqueles a quem vamos eleger no próximo pleito.

Isso é vida real, e a política também entra aqui.

 

 

 

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