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O deputado, o arcebispo e o governador: será sancionado o conto de terror na educação?

Era ainda universitária quando li o famoso livro de Umberto Eco, “O nome da rosa”.

Fui atraída pela ideia de uma rosa nominada, mas o que nele encontrei foi tão maciço e doloroso de sentir, sendo semelhante ao filme “O Pacto dos Lobos”, que trazem à flor do raciocínio humano o desserviço prestado pela religiosa influência da Idade Média na história da humanidade.

No primeiro, a morte era a sentença para aqueles que tinham acesso ao conhecimento que a Igreja escondia.

No segundo, a tragédia mortal era o destino dos que se afastavam das ideias ortodoxas de vivência religiosa.

A semelhança: certamente a urdidura por trás de cada evento, em nome de uma santificação criada pela mente do homem, longe demais do amor.

Hoje sabemos que as Cruzadas foram inúteis para a defesa do santo sepulcro, mas aqueles que se candidatavam a  matar e morrer por ele estavam convictos de suas santificações.

Muitas vezes a Igreja cometeu enganos. Estará isenta de cometer novos enganos nos dias atuais?

Contudo, hoje a responsabilidade é muito maior, pois o conhecimento já não está encarcerado nas bibliotecas milenares e os Direitos Humanos repercutem na cotidianidade, embora imprensados pela sanha opressora historicamente herdada .

O pano de fundo dos debates contra “ideologias” nas salas de aula assentam base não declarada no temor da nova configuração de família, expansão das diferentes maneiras de viver a sexualidade, saudando uma ortodoxia que recusa entender a verdade e prefere continuar lidando com os silenciosos “sepulcros caiados” de sempre.

Apesar dos exemplos pautados na alteridade de Francisco, o papa latino, encontramos no arcebispo alagoano exemplo de adesão ao movimento que persegue professores e diz buscar uma “Escola Livre”, armando cortina de fumaça para conter a instrução conforme as necessidades desse tempo, ou seja, o preparo para a convivência saudável com os diferentes.

Vemos a Igreja usando sua força política em carta aberta ao governador Renan Filho, que ao sancionar o projeto que leva uma ética arcaica às escolas, será compreendido como governo atrasado em linhas de pensamento. E agora governador? Como sua gestão figurará na história? O registro da sua escolha será feito.

Nossa compreensão sociológica se refere ao leso direito que o projeto sugere à docência. Pois os objetivos de contenção da família homoafetiva estão fracassados desde o nascedouro, é  processo irreversível, essa família existe; a homossexualidade e as questões de gênero continuarão existindo e ganhando espaço político,  e a escola não dá conta dessa questão; o Brasil deu conta.

Lamentando a postura do arcebispo, que em sua carta abre espaço para o retorno do debate sobre a laicidade da educação, algo que a Igreja tem refutado energicamente, encerro afirmando que se esse projeto for sancionado Renan Filho ganhará um brasão medieval para o seu governo de discurso futurista.

 

 

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