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O agressor de Greta, os agressores do Brasil

A jovem sueca Greta Thunberg esteve sob olhares e falas de maneira intensa nos últimos dias. Greta convocou a defesa do clima, seu grito fez eco e ganhou vários tipos de análises pelo mundo afora.

No Brasil, onde o apartheid tem cor, além de classe social, um analista sugeria que o sucesso do chamado de Greta ao mundo, se devia ao biotipo que a caracteriza, pois a invisibilização da negritude, ensurdece os ouvidos do mundo para os gritos das pessoas negras, não importando quão boa seja a causa defendida ou a inocência que represente.

Também não faltaram elogios para ela, uma quase menina que foi ouvida pelas altas cúpulas internacionais, levando esperanças a corações ora oprimidos pelo avanço do conservadorismo ferrenho em casadinha com o fascismo, instrumentalizando a repaginação da barbárie ultraliberal, como recurso agressivo do capitalismo.

Mas também existiu quem criticasse a grandiosidade dada à pauta trazida por Thunberg, por considerá-la genérica, fazer barulho, mas não apresentar possibilidades de reestruturação política e econômica, alavancas capitais.

Contudo, não houve manifestação mais medonha do que a do jornalista Gustavo Negreiros, que se referiu a Greta como “histérica”, “mal amada” e ainda disse que ela precisa de “um homem e de sexo”.

A jovem possui apenas 16 anos. É autista. E gritou um sonho bonito para o globo, como lhe foi possível fazer.

O jornalista trabalhava em uma rádio, que sofreu retaliações dos patrocinadores após a declaração machista e violenta, sendo demitido pelos empresários, que pediram desculpas.

Nesta mistura resumida de ocorrências, fica difícil não enxergar as partes que geram o todo caótico, complexo, que desestabiliza o conforto e o hábito de quem não admitiu ainda que estamos em guerra.

O analista que partiu da branquitude de Greta como elemento de base para a repercussão do seu grito, haverá de ter razão no que falou.

O mesmo jornalista que agrediu Greta possuía o hábito de agredir outras pessoas, e os patrocinadores não retiraram patrocínio; ou seja, a indignação foi seletiva, e contemplou uma jovem europeia, encaixada no padrão dominante de legitimidade.

Talvez a pauta seja genérica mesmo, e assim não ameace estruturas, o que a torna aceitável e embeleze a mídia, elencando esperanças no futuro através das gerações vindouras.

Entre qualquer análise, independente do timbre de concordância ou discordância, alguém consegue não enxergar Bolsonaro por trás das palavras de Negreiros?

Milhares deles estão à solta, fazendo comentários indecorosos diariamente nos veículos de comunicação sob o silêncio conivente e talvez contente, dos patrocinadores e empresários da indústria midiática brasileira.

Nossa solidariedade a Greta.

Nossos pêsames ao Brasil.

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