Aqueles que se envolvem com o que acontece distante, por vezes ignoram o que acontece ao seu lado. Fiz esta reflexão. Caso Marielle mexeu com o bem e o mal do Brasil.
Abalou sim a sensibilidade de quantos reconheçam o valor da vida e dos Direitos Humanos. Teve eco internacional, e é assim que precisa ser.
Mas aqui no meu cantinho, me fez lembrar de um menino. Um menino que foi vítima inúmeras vezes da mesma estrutura, e até depois de sua morte física, recebeu a morte moral, nefasta e devastadora, para que não sobrasse nem mesmo memória.
Conheço a história por dentro, porque também é história minha, dividida com o jornalista Odilon Rios, hoje um pai censurado pela justiça alagoana; sendo jornalista não pode falar em público o nome do próprio filho.
Motivos: Estado. Polícia. Arbitrariedades. Difamações. Violência institucionalizada.
Não pude deixar de lembrar que recorri a inúmeras instituições e encontrei parcos olhares que me dispensaram a batalha, tentando me convencer de que eu estava errada ao defender pelo menos a memória do meu filho de 16 anos.
Hoje, vejo tais representantes gritando em defesa da memória de Marielle. E faço coro com eles. Mas não esqueço a indiferença quando a dor estava batendo às suas portas estampada no meu rosto. Será que é difícil demais olhar para o que sangra à nossa frente?
Humanistas das Alagoas, saibam vós que eu tive que sobreviver às ameaças dos poderosos e também às suas tentativas de desqualificar meu nome, meu rosto, minha representação feminina/maternal, sob os vossos olhares indiferentes.
O limbo recebeu meus clamores, onde nem direita nem esquerda repercutiam minha luta. As causas para isso podem ser diversas, mas nenhuma tem força de justificativa.
Encontrei na literatura de resistência o caminho mais seguro para escoar registros e denúncias, jogando os nossos algozes no tribunal da história, o único que pude de fato acionar.
Nem toda dor vira mágoa. A minha virou luta; a luta virou livros. E mesmo o boicote não me cala, pois alguém sempre haverá de ler e ao final de cada página saberá o quanto é preciso lutar pela vida, mesmo que a terra pareça inóspita, mesmo que o silêncio continue sendo o eterno grito.
De Alexystaine a Marielle, nosso compromisso segue em defesa da memória e do direito de viver!
Uma resposta
Nenhuma luta é inglória, minha cara Ana Cláudia, quando se tem a certeza de que se faz por amor. Sei da dor de vocês, sei da perseguição, sei do abandono dos amigos… Mas também sei da grandeza das suas almas e que, diante dos supostos poderosos, vocês nada devem e, pelo contrário, são eles que devem à sociedade. Nós três sabemos que o Alex não morreu, mas que a luta por justiça não pode esmorecer, sendo que o coração dos pais, mesmo sangrando, prosseguirão dando asas ao amor e buscando o consolo na luta.