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Maceió e o carnaval das mentiras

Cada cidadão haverá de vibrar com os acontecimentos que lhes falam ao coração, diz a fase simplista que nos libera de análises mais profundas, em nosso imenso medo de comprometimentos com aquilo que desagrade ao poder – assim nos fizeram e nos fizemos.

Ciências Sociais instigam outras buscas. Análises dos ângulos mais ocultos, mesmo quando tudo parece tão óbvio.

A prefeitura de Maceió não teve medo de desfilar seu compromisso com a ostentação, trafegando no meio-termo ideológico que alcançaria corações e neutralizaria críticas e sentimentos de frustrações, porque o caldo da politicalha intoxica a narrativa, e no resumo, o metal que não é tão vil e nem mesmo chega a tilintar, porque as transferências bancárias são onlines – define o enredo e fortalece o poder.

Sim, o maceioense amou o desfile da Escola de Samba Beija-Flor!

Esqueceu por um momento as agruras de uma cidade que se compactou como importante apenas na orla hoteleira, e cantou um rei sem trono, que orgulha os que se sentem representados pela antropologia de uma raça guerreira, destronada.

O bairro da Ponta Grossa, que já foi ícone de antigos carnavais na Praça Moleque Namorador e hoje apenas rememora as marchinhas de outrora, pôde se orgulhar de ter um dos seus na Sapucaí, cantado como poema sonhado, porque a mistura de ilusões permite beleza e feiura bailando no mesmo palco, quando o poder patrocina o ato com milhões retirados das necessidades coletivas.

Na terrinha, a liga de blocos independentes sentiu o peso da mão burguesa da gestão, ferindo memórias com desprezo e omissão, transformando o Sururu da Lama, bloco tradicional, em foco de resistência do maceioense que não recebe cobertura midiática.

Para o Brasil e o mundo a dança nazifascista do poder, fingindo sambar.

Para Maceió o palanque das ilusões, sem confete nem serpentina, porque o carnaval de rua é antigo alvo do poder burguês que se perpetua.

Estou entre os que não cantam o samba da mentira.

Meu roteiro é esperançoso mas escrito com outras matérias.

Uma resposta

  1. Análise perfeita. Corajosa, não apenas no aspecto de exercício da cidadania e seus valores, mas, da intelectualidade e erudição. Parabéns!

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