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‘Estamos exaustos’: professores da rede pública pedem socorro e recebem ameaça de demissão

A primeira reunião entre professores da rede pública alagoana e a secretária Estadual de Educação, Laura Souza, repercutiu nas redes sociais após um trecho, pinçado pelo Sindicato dos Trabalhadores da Educação (Sinteal), em que a secretária ameaça demitir os professores temporários que não consigam frequência de, ao menos, 80% dos alunos no ambiente virtual de sala de aula projetado pela Secretaria, em substituição às aulas presenciais, que estão suspensas por causa da pandemia.

+ Alagoas: Secretária estadual de Educação ameaça demitir professores na pandemia

O trecho é curto, foi repercutido aqui no blog. Mas, a assessoria da Seduc insiste que ele foi tirado de contexto e seria necessário assistir a toda a reunião para entender o que foi dito.

O blog aceitou o desafio: vimos as 2 horas 1 minuto e 54 segundos do encontro. Constatamos que o trecho polêmico não está fora de contexto. Mais: a reunião é um filme de terror, um cenário cruel para os professores que relatam até intimidação por parte das gerências regionais de ensino em torno de preenchimento de documentos para se comprovar aulas on line, conteúdos, presença…

Há ainda: medo do retorno das aulas presenciais (pela insegurança na pandemia); crises de ansiedade e pânico (também causado pelos desconhecimento do professor em lidar com a tecnologia); baixos salários e corte nos vencimentos por causa da reforma da Previdência estadual, aumentando para 14% a contribuição para aposentadoria do servidor público alagoano; sobrecarga de trabalho, com alguns professores sendo obrigados a cumprir toda a carga horária de trabalho sentados diante de computador ou do celular, sem tempo até de ir ao banheiro, além de trabalhando pela madrugada, atendendo dúvidas dos alunos pelo Whatsapp;  indiferença quanto a um colega professor que morreu de Covid-19 e, no grupo de trabalho, horas depois do aviso da morte, mais cobrança aos outros profissionais por excelente desempenho profissional.

Da secretária se escutou que é necessário manter o engajamento (palavra repetida diversas vezes) do professor e do aluno, pedindo-se até que o professor procure o Conselho Tutelar para garantir a frequência virtual dos estudantes ou se busque os pais para os alunos estudarem.

Porém, a reclamação dos alunos aos professores é a dificuldade do acesso a internet e celulares. Alguns não têm aparelho próprio, mas o do pai ou da mãe que precisam sair de casa na pandemia e trabalhar, levando o celular. Ou ainda: não tem dinheiro para comprar crédito e acessar, por dados, o Google Sala de Aula, o ambiente virtual usado pela Seduc. E usam o Whatsapp porque, em algumas operadoras, não são cobrados dados móveis- porém esse formato não é aceito pela secretaria.

A situação acima puxa uma outra: a desmotivação e, segundo os relatos dos professores, desistência de estudar. Situação ainda pior pelos adultos que frequentam a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Soluções apontadas pela secretária Laura Souza: folga de uma semana (7 a 14 de setembro), sem prejuízo das férias; assinatura de convênio de R$ 2 milhões com 4 operadoras de celular para os alunos e os professores terem acesso a internet; R$ 8 milhões (R$ 50 por aluno) de auxílio alimentação.

Os profissionais não ficaram satisfeitos com a resposta. Daqui a duas semanas, um novo encontro está programado. A Seduc mantem uma estranha imagem há décadas: exigências fora da realidade para os professores e ameaça de punição. Será difícil Laura Souza mudar esta imagem com o discurso do “engajamento” que inclui ameaças. O professor não merece.

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