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Ciência, Progresso e o Covid-19, por Maria Cristina Rivé

Para preparar o futuro é preciso viver o presente. Para viver o presente e construir o futuro é preciso olhar para trás. É o passado que nos ensina. Entendê-lo, após observá-lo, pode nos dar a chave de uma vida mais tranquila e de um futuro mais brando.

Partindo desse pressuposto, a História pode nos indicar caminhos a seguir. Aprender com os erros e os acertos pode diminuir problemas e apontar soluções para os muitos desafios que permeiam nossas vidas.

O mundo do século XXI se assemelha, em alguns aspectos, ao mundo de sempre: desafios, ou provações, como bem diz a Doutrina Espírita. Eles nos impulsionam, alavancam nossa evolução. Assim, ao olharmos para trás, detectamos aquilo que hoje vivemos: uma pandemia. Já vivemos isso outras vezes e viveremos outras em próximos tempos. A questão é: Como nos preparamos, que conhecimentos adquirimos com as dificuldades de outrora?

Passamos pela peste bubônica, pela cólera, pela gripe espanhola – era estadunidense –, pelo ebola, pela varíola, mas onde o ensinamento? Em vários aspectos. Aprendemos que a higiene é muito importante, não só a do corpo como, também, a de nossas casas, a dos ambientes frequentados e dos utensílios que utilizamos no dia a dia. O ensino desses hábitos de higiene à população, em certos casos, causou dissabores e revoltas, pois muitos não acreditavam que água e sabão poderia reduzir sobremaneira o avanço de determinadas doenças.

Mas, como descobrimos isso? Através da observação, do estudo. O avanço do pensamento científico permitiu a busca de respostas a perguntas relativas ao porquê de tais moléstias desafiadoras. Como ocorriam? Por que ocorriam? Se era um castigo divino, qual o motivo de alguns dela se safarem? Não! Deus não está envolvido nessa trama. E, por conseguinte, haveria um modo de se prevenir e de se curar?

Questionamentos e, como tal, produziram o conhecimento científico. Para muitos o pensamento mágico era incompatível com a Inteligência Suprema.

Tal fato permitiu que a humanidade desse um salto de qualidade – quando cientistas perceberam que mulheres que ordenhavam vacas desenvolviam uma forma mais branda de varíola, foi um passo para a descoberta da vacina. A ciência ajudou e ajuda as criaturas em sua saúde física/biológica de forma incontestável. Negar a eficácia de medicamentos não é crime? Infeliz daquele que promove essa negação.

Todavia, quando deveríamos discutir mecanismos de prevenção e de consequente diminuição do contágio de uma doença vivida no agora, no hoje, e que pode ser muito cruel com todos, a – talvez mais, ainda, com os menos abastados, com os excluídos, com os moradores de rua, com os desempregados –, estamos discutindo se é a pandemia uma verdade ou uma mentira, e se o isolamento deve ou não ser cumprido ou se o uso de máscaras diminui ou não o contágio. Ora, se o problema que vivemos é de saúde, devemos ouvir os especialistas em tal ciência, os médicos, os enfermeiros e não os empresários preocupados com o CNPJ. Inclusive, porque, sem saúde, sem vida, não há empresas… A economia somente existirá se houver pessoas para a fazerem girar.

Nós precisaríamos discutir os conselhos de organizações internacionais, que tratam a doença como ela deve ser tratada, com seriedade e com ciência? Não, isso já está estabelecido! Já é comprovado e seguir esses conselhos pode, então, diminuir o sofrimento ocasionado por essa doença devastadora. Porém, muitos não possuem conhecimento na área médica, creem em teorias miraculosas e se pautam dentro de achismos ideológicos, querendo desmentir ou desacreditar as informações legítimas veiculadas pelos detentores de conhecimento na área médica.

O analfabetismo funcional grassa nesta terra pintada de verde-amarelo. Salvo os insignes cientistas que são a exceção, em meio a uma chuva de inverdades disseminadas por aqueles que deveriam indicar caminhos fidedignos. Estes somente negam e minimizam o sofrimento do povo, das classes mais pobres. Sim, em pleno século XXI, voltamos a nos dividir em classes. Ah! Quanto atraso e exclusão.

E nós espíritas? Como encaramos esses tempos vividos? Também somos fundamentalistas, para justificarmos essa pandemia?

Como a atuação da Lei de Causa e Efeito, que nada mais é do que a Lei de Talião Espírita ou, em oposição, por entender que é uma expiação do que se cometeu em experiências encarnatórias e, portanto, um castigo divino? Devemos buscar Kardec e, na Obra Kardeciana, encontrar o alento, a suave brisa dos escritos do Mestre Lionês a nos ajudar a suavizar as dores, sofridas em tempo tão difícil para a sociedade. O Espiritismo caminha com a ciência e nada há de castigo. Existem, sim, problemas que o desenvolvimento da inteligência e a moralidade hão de sanar. A inteligência fazendo a ciência avançar, a moralidade dando a todos os frutos desse avanço tecnológico. Se queremos saúde e educação, somente para alguns não será aprendida a lição: a todos devem ser dadas oportunidades; se não for assim, de nada vale.

Nós, espíritas, não acreditamos em “Karma” – palavra de filosofias esotéricas. Portanto, não podemos ficar inertes, nem sermos egoístas. Não podemos justificar a injustiça social, a vergonhosa distribuição de renda, a falta de oportunidades, o racismo, a homofobia, a misoginia, como sendo provas ou expiações que o Espírito deve cumprir. Se assim o fizermos não sairemos do lugar, porque a falta de empatia permeará nossa existência.

Deus cria e mantém, mas não age na matéria; por isso, as percepções e as atitudes pertencem à criatura e é a essa que cabe a transformação social. Talvez seja essa a verdadeira caridade, a de oportunizar a todos, sem exceção, as condições para progredir. É preciso nos enxergarmos – e aos outros – como construtores de um planeta saudável a quem nele vive, porque teremos começado a entender a Lei Maior que rege os passos dos seres criados: a Lei de Amor. E teremos parado de justificar nosso egoísmo nas etapas que o ser precisa cumprir.

O Espírito cumprirá seus compromissos evolutivos e será através do Progresso estendido a todos. Contudo, a transformação do Planeta poderá ser mais lenta ou mais rápida. Dependerá do despertamento, da saída da ignorância e do consequente entendimento do compromisso individual com o coletivo, com o social.
Não vivemos sós e sós nada somos!

SOBRE O AUTOR

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