Bolsonaro é citado em diálogos sobre Adriano da Nóbrega, mas PGR não recebeu pedido de investigação contra presidente

A Procuradoria Geral da República deveria – mas não foi- ser avisada das menções a Jair Bolsonaro nas interceptações telefônicas durante as investigações sobre o paradeiro (depois assassinato) de Adriano da Nóbrega, miliciano, ligado ao presidente da República.

Segundo o The Intercept, Tatiana Magalhães da Nóbrega, irmã de Adriano, citou Bolsonaro em um ligação a uma pessoa não identificada. Transcrição que consta em relatório técnico da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

O Ministério Público do Rio não tem atribuição para investigar o presidente. Deveria, portanto, encaminhar o diálogo para a Procuradoria Geral da República.

Não o fez.

Existem muitos silêncios em torno das relações entre as milícias e os Bolsonaro. Mas principalmente sobre o Escritório do Crime, chefiado por Adriano, e que chegava a cobrar R$ 1,5 milhão para eliminar alguém sob encomenda.

Uma operação realizada ano passado prendeu o líder da organização, Leonardo Gouveia, de apelido Mad, e o irmão dele, Leandro, conhecido como Tonhão

Adriano morreu em 9 de fevereiro, em uma operação policial mal explicada, no interior da Bahia.

Paulo Klein, advogado de Adriano, disse que recebeu uma ligação dele 5 dias antes da morte.

Ele me disse assim: ‘doutor, ninguém está aqui para me prender. Eles querem me matar. Se me prenderem, vão matar na prisão. Tenho certeza que vão me matar por queima de arquivo’. Palavras dele — afirmou Catta Preta.

Adriano era bem quisto pelos Bolsonaro.

Tanto que a mulher e a mãe trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro, quando ele era deputado estadual no Rio.

Foi homenageado por Flávio, via Assembleia. E também por Jair Bolsonaro, quando ele era deputado federal.

Adriano passou de policial elogiado à criminoso em pouco tempo. Se envolveu com dois dos setores mais ricos do crime no Rio, o jogo do bicho e a milícia. O escândalo dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018, fez com que as autoridades suspeitassem da milícia, de Adriano e de criminosos ligados a ele.

Horas antes da execução de Marielle e Anderson, o sargento aposentado da Polícia Militar Ronnie Lessa, foi ao condomínio Vivendas da Barra, no Rio, para a casa do ex-policial militar Élcio Queiroz.

Os dois são acusados nos assassinatos da vereadora e seu assessor.

Jair Bolsonaro tem uma casa neste condomínio.

No dia da visita, o porteiro do condomínio “registrou no livro de visitantes o nome de Élcio, o modelo do carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa a que o visitante iria, a de número 58, que pertence a Bolsonaro”.

O porteiro mudou o depoimento, na Polícia Federal. Disse ter se enganado.

O depoimento foi a mando de Sérgio Moro, então ministro da Justiça e Segurança Pública do Governo Jair Bolsonaro.

Moro nunca investigou as milícias do Rio.

Profundo conhecedor das milícias- era interventor federal na segurança do Rio- o general Braga Neto assumiu a Casa Civil do Governo Bolsonaro, 9 dias depois da morte de Adriano da Nóbrega.

Segundo o Ministério Público do Rio, Adriano e Fabrício Queiroz, amigo de Jair Bolsonaro e assessor do gabinete de Flávio, mantinham contato um com o outro.

Adriano vivia uma vida de luxo na Bahia.

Quem pagava as contas de Adriano? Ainda não se sabe.

O que se sabe é que dois dias antes da ação policial contra Adriano da Nóbrega, Eduardo Bolsonaro chegou à Bahia e ainda estava lá, no dia da morte de Adriano.

Fabrício Queiroz foi preso. Estava refugiado na casa do advogado Frederick Wassef, que trabalhava para Flávio Bolsonaro.

Frederick Wassef, na tentativa de desvencilhar os Bolsonaro da estratégia para esconder o Queiroz, deixou de trabalhar para Flávio.

O Queiroz contratou o advogado de Adriano da Nóbrega, Paulo Klein, o mesmo que recebeu o telefonema revelador do seu então cliente.

Mistérios permanecem. E quem sabia demais, Adriano, foi morto.

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