“A notícia é apenas o primeiro rascunho da história”. A frase, contida no filme The Post, que vasculha os documentos do Governo americano sobre a Guerra do Vietnã, funcionou também para o trabalho do jornalista Vladimir Calheiros, quando ele era repórter do Jornal do Commercio, em Pernambuco.
Em 23 de julho de 1995, após 2 meses de apuração, o JC fez uma investigação própria sobre o atentado dos Guararapes, em 25 de julho de 1966. O Guararapes era o aeroporto internacional do Recife. Uma bomba explodiu no saguão do aeroporto, matou 2 e deixou 14 feridos.
Alvo do ataque? O futuro presidente da República durante a ditadura- e naquela época ministro- general Costa e Silva.
Na versão publicada pelo JC quase 30 anos depois do atentado, dois presos políticos da Ditadura foram “absolvidos” no trabalho de investigação do jornal: Ricardo Zarattini e Edinaldo Miranda.
Vladimir foi responsável pela pesquisa nos arquivos da história a respeito do atentado. Outros 4 repórteres integraram a apuração.
Resultado? Em 1995, a reportagem ganhou o prêmio Esso de jornalismo.
Os contatos do jornalista de Vladimir Calheiros- morto no dia 8 de maio, aos 81 anos- ajudaram, também, a entender os efeitos do golpe militar entre os usineiros de Pernambuco, que tramaram a queda de Miguel Arraes, governador e na lista dos temores dos militares de que ele liderasse uma insurreição no Nordeste contra a ditadura.
Vladimir era herdeiro de usina. Em 1994, “Pernambuco no centro do golpe” estampou o JC, escarafunchando o passado açucareiro e suas relações com o poder militar. Foi o primeiro Esso de Vladimir.
O jornalista- que era diretor-adjunto da Comunicação do Tribunal de Justiça- morreu de pneumonia. Há anos lutava contra um câncer. Será enterrado nesta 5ª, no cemitério Parque das Flores, à 11 da manhã.
Sua assinatura ajudou a mudar os rumos da História.
