Venezuela adianta relógio em meia hora por grave crise energética

Os ponteiros do relógio serão adiantados em meia hora na Venezuela. Mudanças de horário, estabelecimentos comerciais à meia-luz, folgas e jornadas de trabalho reduzidas são as medidas adotadas pelo governo para amenizar a crise energética agravada pelo fenômeno de El Niño.

“A decisão que o presidente (Nicolás Maduro) tomou é voltar ao fuso horário de quatro horas a menos em relação ao meridiano de Greenwich (-4h GMT)”, anunciou o ministro para a Educação Universitária, Ciência e Tecnologia, Jorge Arreaza, em rede nacional de televisão nesta sexta-feira.

Assim, a partir de 1º de maio próximo, a Venezuela volta ao horário que vigorou até 9 de dezembro de 2007, quando o então presidente Hugo Chávez – morto em 2013 – fixou a hora em -4h30 GMT.

O país com as maiores reservas de petróleo do mundo, que viveu uma dura crise elétrica em 2010, sofre apagões e racionamentos de água, aumentando as dificuldades do dia a dia.

Acompanhado por outros ministros, Arreaza disse que essa decisão foi anunciada na quinta-feira pelo presidente Maduro, como parte de um plano especial para enfrentar a seca. O nível é crítico nos 18 reservatórios de água do país.

“Vai ser tão simples quanto adiantar o relógio em meia hora. Isso vai permitir que possamos aproveitar melhor a luz do dia, de maneira que não vai escurecer tão cedo”, acrescentou o ministro.

Arreaza comentou que é à noite, quando as pessoas voltam do trabalho e de outras atividades, o momento em que se acendem as luzes e o ar-condicionado.

Maduro fez um apelo para a consciência da população para que apoie seu plano, diante da gravidade do fenômeno climático. Enquanto isso, a oposição alega que o governo socialista não investiu em obras de manutenção das hidrelétricas e termoelétricas e não se preparou para esta situação.

Para o presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, essas medidas são um “disparate”. A Casa é dominada pela oposição.

Maduro garante, porém, que as medidas serão aplicadas para que não se tenha de recorrer, por enquanto, a aumentos nas contas de luz, altamente subsidiadas na Venezuela. Ele também espera conseguir evitar racionamentos programados.

Analistas econômicos advertem que esse tipo de medida afeta a produtividade de um país mergulhado em uma aguda crise econômica, com a inflação mais alta do mundo (180% em 2015) e escassez de alimentos.

Feriados venezuelanos

Aproveitando que a próxima terça (19) é feriado pelo Dia da Independência, o presidente também autorizou que os setores público e de educação “enforquem” a segunda-feira, incluindo colégios e universidades particulares, conforme o Diário Oficial.

Na semana passada, ele já havia declarado as sexta-feiras como folga para o setor público nos próximos dois meses. Além disso, a carga horária de trabalho em ministérios e empresas públicas foi reduzida para oito horas diárias.

Na Semana Santa, os setores público e privado foram liberados de trabalhar, o que, segundo ele, teve um resultado bem-sucedido para poupar energia.

Semana passada, Maduro já havia ampliado para nove horas diárias o racionamento de energia para grandes consumidores, como os hotéis, que devem gerar sua própria energia. A medida teve início em fevereiro, por quatro horas, e levou as lojas a encurtar seu horário de funcionamento.

“Temos de nos adaptar na revolução, para que a mudança (climática) afete o mínimo possível a qualidade de vida e a felicidade do nosso povo”, manifestou Maduro, afirmando que o problema da seca “é quase uma tragédia ambiental”.

A Central Hidrelétrica El Guri, principal reserva situada no estado de Bolívar (sudeste) e que abastece 70% da energia elétrica consumida no país, está apenas 2,88 metros acima do nível mínimo.

“O presidente Maduro está fazendo todo o possível para evitar racionamentos programados. Tomara que não tenhamos de chegar lá, mas que dependa mais de cada um de nós na economia que fizermos, os grandes consumidores também”, comentou Arreaza.

O ministro disse que o presidente mudará o horário oficial com base em um decreto de emergência econômica. A medida está em vigor desde janeiro, embora tenha sido rejeitado pelo Parlamento.

O horário vigente na Venezuela nos últimos nove anos gerava algumas dificuldades. Não estava contemplado, por exemplo, nos sistemas de informática. “A recomendação internacional é estar em horas inteiras”, afirmou.

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