No estado com maior quantidade de miseráveis e analfabetos no Brasil, conseguir um diploma em um curso superior significa melhorar de vida.
Mas no Centro Universitário Tiradentes (Unit) em Maceió, os alunos do curso noturno de Arquitetura e Urbanismo receberam a notícia de que as turmas deste horário serão encerradas. Quem quiser continuar estudando, ganha um desconto se optar pelo mesmo curso durante o dia.
Problema é que quem estuda à noite geralmente trabalha em outros horários, numa rotina cansativa e exigente.
Segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), em 2019, do total de alunos matriculados em cursos presenciais, a maior parte, 57,6%, estudava neste horário.
São horas de espera em pontos e ônibus cheios, trânsito, negociações de carga horária, falta de dinheiro para o jantar ou um lanche entre as aulas, além de tempo mínimo para estudar e responder trabalhos da universidade.
E tudo isso por um sonho: o do diploma de curso superior.
Segundo a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),21% dos jovens brasileiros, entre 25 e 34 anos, concluíram o Ensino Superior. É a média mais baixa de toda a América Latina.
A OCDE diz que a escolaridade é um fator importante para oportunidades no mercado de trabalho. A taxa de emprego para que tem graduação chega a 83%.
Incerteza
Os alunos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unit foram informados que deveriam mudar o horário da turma pois a instituição optou por encerrar o curso à noite e só ofertá-lo pela manhã.
“Uma falta de respeito! Ou seja, as pessoas que trabalham, que é o meu caso e de algumas pessoas na turma, pelo horário da manhã, vão ter que trancar a faculdade”, diz a estudante Valéria Cristina. Ela está preocupada com o futuro.
“O mundo começou a desabar sobre a minha cabeça. As aulas começam nesta segunda-feira (30/01) e não tivemos aviso prévio. Falaram que não existe possibilidade nenhuma de dar continuidade ao curso pela noite”, explica.
Segundo ela, a turma desconfiou que algo estava errado quando vários alunos não conseguiam alocar disciplinas do próximo semestre na área virtual do aluno. Eles iriam para o terceiro período. Os estudantes entraram em contato com a coordenação do curso que anunciou a mudança.
A estudante relata ainda que havia rumores de mudanças e encerramento de cursos no Centro Universitário após a venda da empresa em outubro de 2022 para um grupo de educação médica. Porém nada havia sido confirmado em relação ao curso de Arquitetura e Urbanismo, que até o momento estava funcionando de maneira regular.
“Todos estão sem saber o que fazer”, diz ela. A turma tenta tornar o caso público e se organiza para tomar providências judiciais. A instituição teria oferecido ainda um desconto para quem conseguisse migrar para o horário da manhã.
Procurada pela reportagem, a presidente do Conselho Estadual de Educação, Marly Vidinha, informou que “nenhum estudante pode ter prejuízos em sua vida acadêmica provocado pela instituição. E que fechamento de cursos tem critérios que precisam ser observados, inclusive fazendo a escuta a comunidade acadêmica.”
“O que está em questão não é a autonomia da universidade de realocar turmas e turnos, mas o direito do estudante e o contrato do serviço educacional, tendo em vista que educação é direito público subjetivo e a oferta pelas redes privadas é uma concessão, conforme dispõe a LDB.”, explica.
O Repórter Nordeste procurou a Defensoria Pública de Alagoas para entender quais os próximos passos para os alunos que foram diretamente afetados pela decisão interna da instituição.
E a Defensoria se colocou à disposição para intervir no caso.
O Ministério Público Federal também está à disposição. E indicou que a turma fizesse uma representação através do canal de atendimento ao cidadão para que o caso fosse apurado. Os alunos podem abrir o procedimento no site: https://www.mpf.mp.br/mpfservicos.
Procurada, a UNIT/AL nos enviou uma nota, salientando que as decisões tomadas pela instituição não acarretarão em perdas financeiras ou acadêmicas aos alunos. Confira o posicionamento do Centro Universitário na íntegra:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
“Diante dos fatos apresentados, o Centro Universitário Tiradentes – Unit Alagoas, vem a público reafirmar o seu compromisso com a comunidade acadêmica e, sobretudo, com a qualidade na educação. As decisões tomadas pela instituição não acarretarão em perdas financeiras ou acadêmicas aos alunos. Contudo, todo aluno que já realizou a matrícula e possua desacordo com a nova proposta apresentada, deve procurar os setores da instituição e realizar as tratativas necessárias, que demandam soluções individuais, por isso a necessidade do contato do aluno com a coordenação do seu curso.
Reforçamos também que ainda continuaremos oferecendo os cursos de Publicidade e Propaganda e Ciências Contábeis no ano de 2023, e que os alunos que realizam projetos ou que estão em fase de orientação Trabalho de Conclusão de Curso – TCC também não sofrerão perdas.
Desde já, nos colocamos à disposição e reafirmamos o empenho de todo time para sanar as dúvidas de nossos discentes.”
5 respostas
Eu mesma, perdi meu estágio por conta de mudança surpresa! Esse desconto que a instituição está ofertando não adianta de nada para quem é bolsista!
É um absurdo, nos sentimos completamente prejudicados nesse momento, pois, fomos pegos todos de surpresa. Se o estudante escolhe um horário, é justamente, porque, aquele horário é o melhor para se estudar, o que coincidiu com sua rotina. A faculdade não está dando oportunidade de escolha, simplesmente, quer que a gente aceite a mudança do turno.
Não só o curso de arquitetura e urbanismo, mas também cursos de fisioterapia, enfermagem, ciências contábeis e outros…Um descaso total, não informaram nada até a gente questionar a coordenação o porque de nao conseguir alocar as disciplinas.
Arquitetura?? E os outros cursos que não foram mencionados aqui ?
Um absurdo e total falta de respeito com os alunos, que nem foram comunicados da tal palhaçada!
Todos revoltadooooooos.
Só Arquitetura nãoooooooo!! E os outros cursos que não foram mencionados aqui ?
Um absurdo e total falta de respeito com os alunos, que nem foram comunicados da tal palhaçada!
Todos revoltadooooooos.