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Um recado ao Espiritismo, de Alessandra Araújo

O divaldismo, corrente de Divaldo Pereira Franco que injetou no Espiritismo o desapegamento da religião/filosofia com a realidade, distorceu os estudos e trabalhos desenvolvidos por Allan Kardec.

Distorceu porque há necessidade de falarmos de justiça social, igualdade, oportunidades entre nós, os encarnados e as consequências do mundo pós-morte.

Veja que os dois mundos – o dos encarnados e dos desencarnados- são ligados. Mas, o Espiritismo brasileiro, por décadas, preocupou-se, oportunamente, com a vida pós-morte. Condenou pessoas entre privilegiadas e desprivilegiadas, fazendo famílias inteiras amargarem culpas insólitas por problemas envolvendo parentes ou os mais próximos. “É o karma”, “lei de causa e efeito”, “colhe o que plantou em vidas passadas”.

Não raro os privilegiados estavam ligados ao sucesso material e os desprivilegiados haviam sido privilegiados que, no passado, desperdiçaram suas vidas em práticas danosas à alma humana, portanto estavam pagando ou ajustando contas, na atualidade, com a semeadura pretérita.

Em verdade estas são expressões egóicas, arrogantes e justificam ou aliviam nossos mecanismos mentais a respeito das responsabilidades no ambiente do mundo que vivemos e a capacidade de contribuição- trabalho de melhoria nosso e do próximo- com este mundo palpável, material.

Alessandra Araújo, na palestra “Espíritas, que sociedade queremos” (do Coletivo Maria Felipa, veja aqui), nos relembra que Espiritismo e Política caminham juntos. Foi Aristóteles quem associou o homem à política (diferente dos políticos e dos partidos que são outros conceitos). Kardec também percorreu o pensamento aristotélico para a construção da moral dos homens e a virtude no Estado.

Talvez para substituir nossos compromissos com o mundo, nossas emoções os substituíram pelo igrejismo espírita, um tipo de fanatismo que por certo o próprio Allan Kardec jamais professou. Caminho perigoso que permite, por exemplo, condenar veementemente o aborto e aceitar cidadãos de bem armados e atirando em nome da defesa da família e da moral.

Por saber que tipo de beco nós, espíritas, estamos nos metendo é que Alessandra Araújo relembra nossos laços entre o invisível e a matéria. Pássaros não voam com uma asa apenas. Espiritismo sem bem-estar social é cantilena de ninar.

Uma resposta

  1. Texto excelente, Odilon. Parabéns. Obrigada pela generosidade na referência. Essa fuga dos espíritas de sua responsabilidade cidadã, disfarçada de neutralidade, precisa ser pautada. Como nos ensinou Paulo Freire: eu vivo para que a justiça social venha antes da caridade. Abraço fraterno.

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