O tempo da Justiça e o tempo do cidadão em busca de Justiça estão em lados opostos- e isso é ainda mais claro em Alagoas, onde crimes emblemáticos infestam as prateleiras do Judiciário local- ainda que algumas iniciativas no presente busquem alterar a conduta de personagens do passado.
Há exatos 268 dias, seu Sebastião espera uma definição: o ex-deputado e ex-policial Luiz Pedro da Silva, condenado a 26 anos e 5 meses de prisão pelo assassinato do seu filho, será preso ou continuará (como hoje) respondendo ao crime em liberdade?
Quando será decidido o recurso da defesa de Luiz Pedro, que pede a anulação do julgamento, realizado em 24 de setembro do ano passado?
Por óbvio, a defesa segue seu direito legal de recorrer pela anulação do júri e questionar a aplicação da pena.
No Tribunal de Justiça (que vai decidir pela anulação ou não), o relator do caso é o desembargador Sebastião Costa, que tenta cumprir o papel que lhe cabe: a decisão.
Porém, todos – defesa e relator- estão submetidos às curvas do sistema penal brasileiro.
Curvas cruéis para as vítimas de um país que mata 56 mil pessoas por ano- e menos de 10% destes crimes são esclarecidos.
Vejamos:
– O filho do seu Sebastião, Carlos Roberto Rocha Santos, foi assassinado há 4.328 dias;
– Entre o crime e o julgamento (em primeira instância), seu Sebastião esperou 4.060 dias.
Neste período:
– O corpo do filho de seu Sebastião sumiu das pedras do IML em Maceió;
– O Estado deve (mas nunca pagou) indenização por mais este crime: o direito de um pai enterrar seu filho;
– Luiz Pedro elegeu-se da prisão, com vídeo gravado através de um celular e passando no guia eleitoral (quem gravou? quem foi punido?);
– Foi empossado, terminou o mandato, elegeu a mulher (a Aparecida do Luiz Pedro) e, mais uma vez, ela será reeleita;
– E ano passado, em 30 de junho, os vereadores da capital se reuniram para homenagear Luiz Pedro.
É como se, novamente, o filho de seu Sebastião tivesse sido assassinado mais vez- desta vez, na própria honra.
Alagoas é um lugar onde criminosos são festejados em lugares fechados.
Porque as portas escancaradas dariam repulsa a quem ainda se indigna.
Seu Sebastião não foi homenageado uma única vez.
Nem pela Assembleia Legislativa, com a medalha Renildo dos Santos (homenagem ao vereador de Coqueiro Seco morto barbaramente).
Nem pela Câmara de Vereadores de Maceió.
Nem pela Prefeitura.
Nem pelo Governo do Estado- que distribui a medalha Sílvio Vianna todos os anos a servidores públicos que se destacam.
Seu Sebastião é servidor público.
Sobre ele, as autoridades públicas levantam o silêncio.
Para mostrar que não há o que dizer.