Quando vesti a camisa que meu filho torturado usou, não era um gesto simbólico, era um ritual de adesão pública a uma luta pela vida!
E um amigo de infância falou em voz baixa para outro amigo que me contou depois: Palhaçada!
Quando gritei para as instituições ouvirem e protocolei inúmeros documentos para que virassem estatísticas, as vozes mais conhecidas falavam pelas minhas costas: Desesperada!
Quando paguei os altos preços de trabalhar e ser mãe de um adolescente transtornado que pensava em pular do sexto andar e recusava ir ao consultório da psicóloga porque não estava doente, os rostos amigos comentavam entre si: E o profissionalismo?
Quando enterrei a semente de mim mesma antes da hora e sequer pude lembrar de comprar flores para lhe ornar a última morada material, burburinhos se espalhavam ainda no cemitério: Melhor enterrar, que ver na prisão!
Quando mergulhei na profunda solidão das madrugadas insones, o eco comum acusava a vítima.
Na solidão enxerguei o caminho.
A força que movimenta meus gestos não é somente minha, é ontológica. Sou a fusão que a vida fez, sou conduzida pela ancestralidade em luta.
Minha boca é fonte de denúncias e acolhidas, porque no abraço de uma mãe cabe muitas vidas!
Há oito anos militando múltipla, sob a firme convicção de que nossas pautas são apenas Direitos Humanos, e para existirem jamais precisarão ser legitimadas por nenhuma instituição.
Minha escrita é humana, assim como também é humana essa determinação!
Não recebo honras, medalhas ou troféus; mas quando fito o azul do céu, sinto a liberdade me beijar.
Na memória do filho, sou parte da luta das mães.
A forja solitária ensina que esse tipo de amor é adubado pela rejeição.
Fraqueza? Não! Rancor? Não! Também não cristalizo desenganos, eu milito Direitos Humanos!