Renan Calheiros arma operação 'Salva Demóstenes' no Senado

Em socorro a Demóstenes, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), vê as medidas como desnecessárias. "Em havendo investigações no Supremo Tribunal Federal, não há por que haver investigação política no Conselho de Ética", considerou Calheiros

Erich Decat-Correio Braziliense

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou um pedido de abertura de inquérito no início da noite de ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e os deputados Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP-GO). Os três estariam envolvidos em supostas ligações criminosas com o contraventor Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlos Cachoeira. O inquérito corre em segredo de Justiça. Por meio da assessoria, Gurgel informou que o pedido tem como base as investigações feitas pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, realizada no fim de fevereiro. Na ocasião, foram presas 35 pessoas, inclusive Cachoeira, suspeitas de atuar em um esquema de jogos com caça-níqueis em Goiás.

Além do material dessa operação, faz parte do inquérito o conteúdo das investigações realizadas pela PF em 2009 em que o senador teria recebido R$ 3 mil de Cachoeira para o pagamento de um táxi-aéreo. Demóstenes teria vazado informações sigilosas de encontros feitos no Executivo, Judiciário e Legislativo de interesse do contraventor. “Ele nos disse que recebeu o material da Polícia Federal em 2009, mas não havia elementos robustos e, por isso, ficou no aguardo, sem engavetar, de mais dados que surgiram com a operação Monte Carlo”, ressaltou o líder do PSol na Câmara, Chico Alencar (RJ). O parlamentar fez parte do grupo da Frente Parlamentar Mista de Combate à Corrupção que esteve no gabinete de Gurgel na tarde de ontem para cobrar celeridade nas investigações.

Paralelamente ao inquérito do STF, o líder do PSol no Senado, Randolfe Rodrigue (AP), protocolará requerimento hoje com pedido de investigação no Conselho de Ética da Casa. Em socorro a Demóstenes, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), vê as medidas como desnecessárias. “Em havendo investigações no Supremo Tribunal Federal, não há por que haver investigação política no Conselho de Ética”, considerou Calheiros.

Solicitações
Em outra iniciativa, o corregedor do Senado, Vital do Rêgo (PMDB-PB), diz que também aguarda o recebimento do conteúdo das investigações da PGR para tomar providências: “A situação é preocupante, mas a corregedoria só vai se posicionar sobre ela quando receber os elementos que estão solicitados a PGR”.

Horas antes da decisão do PGR, Demóstenes renunciou ao cargo de líder do DEM no Senado. No lugar dele, ficará o atual presidente do partido, José Agripino Maia (RN). A decisão foi tomada em reunião com os dois senadores; o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA); e o deputado Ronaldo Caiado (GO). “Ele está impactado”, resumiu Maia sobre o estado de espírito de Demóstenes. Segundo ele, uma possível expulsão do colega não está descartada, caso as denúncias venham a se confirmar.

Nos bastidores, integrantes do partido ouvidos pelo Correio apontam o possível vazamento de dados sigilosos por parte de Demóstenes como o fato mais grave revelado até o momento. “Ter cozinha, táxi-aéreo pagos fica no pitoresco, mas vazamento de informação aí a coisa pega”, avaliou um integrante da cúpula do DEM.

Em meio à crise, Demóstenes preferiu o silêncio e evitou os jornalistas durante todo o dia. A única manifestação veio por meio de uma carta enviada ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Meu desejo é ocupar a tribuna do Senado tão logo tenha acesso ao conteúdo dos autos que, segundo afirmam, estão em poder do Procurador-Geral da República”, diz um trecho da carta.

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