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Regina Duarte, que ironizou mortos da ditadura, simboliza o mausoléu do bolsonarismo

A atriz Regina Duarte deixou o Governo Bolsonaro ou foi largada pelo presidente da República.

Sua saída teve um ritmo próprio e intenso. Um ritmo de funeral: foi exonerada no dia 10, via Diário Oficial, depois de ser destroçada pelos olavistas e pelo guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho; também caiu após encontros de Bolsonaro com Mário Frias, substituto da eterna Viúva Porcina, que agora deve seguir para um cargo que não existe na Cinemateca, que de tão sucateada virou o mausoléu onde está sepultada a memória do cinema nacional.

Estranho que Regina Duarte deixe o Governo pouco mais de 1 mês da entrevista à CNN, quando, a certa altura, ironizou os mortos da ditadura militar. Um dos símbolos de resistência da classe artística aos anos de chumbo, Aldir Blanc, havia morrido pouco dias antes da entrevista. E Regina Duarte, para não desagradar Bolsonaro, não mandou condolências públicas para a família do compositor de O Bêbado e o Equilibrista.

Ao invés disso, afirmou: “Será que a Secretaria [Especial de Cultura] vai virar um obituário?”, assim, sem ensaios, entoando um dos hinos da ditadura, Pra Frente Brasil.

Sobrou também aos mortos por covid-19. Entre eles, Aldir Blanc:  “Na humanidade, não para de morrer. Se você falar vida, do lado tem morte. Não quero arrastar um cemitério de mortos nas minhas costas, não desejo isso para ninguém. Sou leve, estou viva. Para que olhar para trás? Que horrível ficar arrastando cordéis de caixões. O covid está trazendo uma morbidez insuportável.”

Regina Duarte ajudou a colocar mais um tijolo no mausoléu da Cultura da era Jair Bolsonaro. Não da cultura brasileira, que jamais morre nem precisa de governos para estar-se neste mundo. E sim na junção de nadas, o mar de vazios de uma era, cujo símbolo é uma arma empunhada com as mãos.

Ironia das ironias. Regina Duarte morreu, ajudou a enterrar sua pasta e a cultura bolsonarista lhe nega uma simples simples homenagem post mortem. Logo ela, tão patriota e tão serva do presidente. É assim. Pra frente, Brasil.

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