Radicalidade gay contra o terrorismo hétero

Por Silvio Rodrigo

O título é uma provocação. E espero que marque o início de um alvoroço político para além das homenagens e das festividades institucionais e mercadológicas sobre orgulho no mês de Junho. Esta é uma reflexão rebelde, por isso não espero que não seja incomoda, muito pelo contrário, pretendo incomodar.

Acontece que ela nasce a partir dos sentimentos mais genuínos de indignação, esse sentimento que a comunidade LGBTQIA+ vive neste países há muito tempo. No entanto, como sabemos, qualquer revolta no Brasil, quando não é sufocada, é amaciada no lombo pela crueza de classe do Estado, através de seus braços, mãos e pernas que legitimam uma violência unilateral: a violência heterossexual e cisgênero.

Com porretes, armas e gás ela combate LGBTs até o último momento, até a última gota de sangue. A temporada de caça está sempre aberta. Pais e mães nos prendem em cárcere privado, avós e tios nos sugam a esperança e nos ensejam vergonha e auto ódio até que nos matemos para alívio de nossas dores: seremos sempre o alvo? Seremos sempre presa?

Na temporada de caça, homens vigiam o ato do sexo, marcam emboscadas em aplicativos, roubam sonhos, objetos, afetos e por último a vida. Eles não nos querem aqui. Heterossexuais, eles reafirmam, com suas violências legitimadas pela institucionaldiade burguesa.

O problema para nós é de segurança pública, mas a frente das secretarias e órgãos estão heterossexuais e seus delírios de retidão natural, de reprodução compulsória, de controle de vida e morte. O problema é na Educação, mas governadores e prefeitos heterossexuais fazem vista grossa quando nos expulsam das escolas, não nos deixam utilizar banheiros, não nos chamam pelo nosso nome, nosso gênero, nossa identidade.

A burguesia heteronormativa nos odeia e esse ódio institucionalizado não é retido pelo amor e doçura que podemos ter, que podemos doar, que podemos ensinar. O que eles nos dão? Uma cidadania restrita, uma ilusão democrática dentro da estrutura do Governo, mini investimentos em eventos públicos esvaziados de conteúdo político, rebelde, radical. A burguesia, finalmente, quando não nos mata nos faz consumidores, ou ainda pior, apenas eleitores.

E assim se concretizam os cabides de emprego, o voto de cabresto. Na falácia institucional hétero-burguesa do poder eles nos querem dóceis, fantasiados, brilhosos e “animados” para concederem a nós uma cidadania à conta gotas. Não é disso que precisamos, não é para isso que lutamos e não só de amores vivem nossos anseios de vida, pão, trabalho, paz e afetividade.

Nada do que podemos ser hoje foi nos dado pela paz, nada do que nos é permitido, mesmo de maneira restrita, veio pelos arroubos e solavancos “democráticos” deste país.

E foi por isso que o mês de junho marcou a história política do movimento LGBT internacional, quando revidamos ao terrorismo heterossexual e burguês com radicalidade. Em 28 de junho de 1969, nos EUA, após uma batida policial na boate Stonewall Inn em Nova York, a comunidade LGBT não foi mais a presa, pois revidamos, por que nos organizamos, por que com nossas mãos também buscamos justiça.

Advogar pelo amor e pela liberdade não pode nos fazer reféns de migalhas políticas e rebaixamento das nossas pautas, das nossas conquistas e da nossa capacidade de organização política para o contra-ataque.

Não só de escudos viveremos quando puder finalmente avançar, avassaladores, numa democracia ampliada e igualitária: ninguém a cima de ninguém, nenhuma violência legitimada pela ódio burguês e nenhum de nós mortos pela democracia burguesa.

Entre aceitação e conchavos podemos escolher a luta, podemos escolher a crítica e além de comemorarmos nossos amores organizarmos nosso ódio. A opressão institucional hetero-cis coronelesca de Alagoas precisa ser combatida de frente, as segurança pública precisa nos dar respostas quando nossa comunidade é atacada e nos encontram dias depois envoltos no próprio sangue.

Chega desta farra política com nossas lutas históricas!

Nossas famílias também são dignas de luta e não destruirão as nossas com a desculpa de proteger as suas.

Recuem, pois também sabemos lutar!

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