Pequenos Frascos

A Administração é uma ciência que tem importância e significado peculiar para os entes privados e para os entes públicos. Não raro, também, conceitos, teorias e aplicações alcançam a vida individual, privada, com resultados bem satisfatórios. Isto no sentido da melhora, do progresso de cada pessoa.

Como qualquer ciência, a teoria precisa de experimentação. Ou seja, por um lado, o que é pensado, idealizado, teorizado, carece de implemento, de materialização, de aplicação a dado contexto. Por outro, as ações, muitas delas fruto da imaginação, do potencial inventivo humano, quando bons resultados aparecem, fundamentam as teorias. E, mais ainda, em muitos casos, há um processo de retroalimentação, entre teoria e prática.

Conta-se, no meio acadêmico, que uma grande empresa, do ramo de higiene pessoal, já com expressiva penetração no mercado, desejava ampliar sua fatia entre os consumidores e, consequentemente, ampliar seus resultados financeiros e a distribuição de lucros entre os acionistas. Natural que uma organização não se encastele naquilo que é ou possui e busque o aperfeiçoamento constante.

Várias reuniões vinham acontecendo, entre os executivos, os responsáveis pelo marketing, os de logística e consultores especializados. Já haviam sido feitas várias alterações estéticas no produto e na embalagem. Campanhas publicitárias com atores ou esportistas de renome e a aquisição de espaços em horário nobre não tinham provocado alteração nos números.

Mais uma reunião foi marcada e novas ideias, uma a uma, estavam sendo postas à mesa. Não havia grande novidade. O diretor-presidente sinalizava negativamente com a cabeça a cada apresentação. Na sala onde os debates estavam acontecendo, um faxineiro com vários anos de atividade naquela organização, um dos melhores no seu ofício, digno de constantes elogios, permanecia calado realizando seus afazeres. Ouvia as explanações, com atenção, mas sem desviar do seu foco.
Eis que o silêncio se fez na sala, para que os participantes pensassem sobre tudo o que havia, uma vez mais, sido debatido até aquele momento, na expectativa de que algo inusitado pudesse ser proposto, em busca do objetivo organizacional daquela manhã.

O profissional de limpeza, então, olhou para o executivo principal e perguntou se ele podia falar uma coisa. Todos lhe dirigiram a atenção e alguns se entreolharam, com relativo espanto. Com a aquiescência do dirigente, o homem maduro sugeriu: – Por que os senhores não aumentam o orifício de saída da pasta de dente? Assim, quando as pessoas forem utilizar o tubo, vão colocar mais pasta na escova e, em consequência, terão de comprar mais produtos, por gastarem mais a cada escovada…

Os olhos do grande executivo brilharam. Mas que ideia – simples – genial! Realmente, os recipientes vinham seguindo um padrão há anos e, até, eram bem “econômicos” na retirada do dentifrício. E, para aquela mudança operacional, não seria necessário nenhum esforço sobre-humano ou impossível. Bastaria requisitar à fabricante, parceira, uma adequação no “bico” da pasta. O encarregado da logística sinalizou positivamente, mesmo que o dirigente não lhe houvesse solicitado análise.

O dirigente, então, agradeceu a sugestão e disse ao funcionário que eles iriam estudar a mesma com carinho. O velho homem vestiu-se de largo sorriso, pediu licença e saiu na direção de suas outras tarefas no prédio.

O “causo” é sempre contado nas aulas de faculdade, como um “case” de sucesso. Quatro meses após a mudança no produto, já se percebia aumentos significativos nas vendas, intensificando a produção. Ao cabo de um ano, 28% a mais de faturamento bruto. Nos anos seguintes, outros números mais positivos.

Exemplos como este nos dão lições administrativo-empresarias muito significativas. A primeira: um olhar externo, de alguém que não faz parte da “cadeia” de processos gerenciais, pode permitir a oxigenação das ideias e oferecer contributos importantes. A segunda: a de que pessoas sem a mesma formação técnica e profissional, sem as mesmas oportunidades de atuação e desempenho ou, aparentemente, em ocupações que nada têm a ver com a especificidade organizacional, podem apresentar explicações ou soluções para problemas, baseadas na sua “expertise” da vida, ou seja, a forma como resolvem as mínimas e corriqueiras situações da existência.

Um pequeno frasco, como diz o conhecido adágio, pode conter líquido precioso…

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