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Nô Pedrosa foi eliminado há 6 meses e sua morte virou um grande negócio

23 de dezembro de 2017. Nô Pedrosa e José Márcio dos Santos são assassinados no bairro de Mangabeiras, em Maceió. Nô Pedrosa, conhecido ativista social das ruas da cidade, anarquista assumido, mesmo na morte denunciou o conhecido regime de limpeza social, negado por autoridades oficiais e aceito por parte da sociedade alagoana, incluindo a classe média presente no enterro de Nô Pedrosa, no luxuoso Parque das Flores.

Passados 6 meses dos crimes, ninguém foi punido. O inquérito policial foi concluído sem autoria. O desafio de revelar os rostos dos criminosos virou beneplácito auto sustentado pelo silêncio. Mesmo Nô Pedrosa virou cadáver sem importância em nossa ilusão democrática.

Quando a Gangue Fardada agia sob pagamento dos endinheirados locais para atender aos interesses poderosos, a ideologia do crime era normal.

Quando os acusados no assassinato do estudante Diego Florêncio foram condenados, saíram pela porta da frente do tribunal sem serem presos e o juri popular foi anulado por decisão do Tribunal de Justiça, tratava-se o crime como um mecanismo comum.

Quando o ex-deputado estadual Luiz Pedro da Silva foi condenado à prisão, mas saiu pela porta da frente do tribunal, por liderar grupo de extermínio que matou e sumiu com o corpo do IML de Maceió, o servente de pedreiro Carlos Roberto Rocha Santos, o filho do seu Sebastião, entende-se que os requisitos do nossa criminologia estão na aceitação da morte matada como uma entidade autônoma, um consórcio que parece planejado para dar certo.

E é estranho que as ruas compartilhem este pensamento e a coincidência seja real.

A morte dos estorvos sociais virou um negócio. Incorpora o desejo de justiça que a Justiça oficial não consolida; tem forte influência do status quo e; encontra fonte de financiamento até na própria Assembleia Legislativa, quando um deputado empregava no próprio gabinete seu pistoleiro, um coronel da PM era dedo duro de outro deputado na Operação Taturana ou a CPI do Narcotráfico mostrou os meandros do esquema da morte em Alagoas.

Nô Pedrosa enfrenta seu segundo fim trágico: a indiferença do restos dos mortais. Teve sorte. Foi enterrado sob homenagens idílicas ou cínicas de nossa classe média apodrecida. Poderia ter ido para a cova rasa. Um túmulo sem lápide. Ou ser tratado como drogadito, nesta sanha de justificar que o errado foi o morto.

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