Mercadores da fé se preparam para justificar tragédia da era Bolsonaro

Grupos de eleitores de Jair Bolsonaro são abastecidos, nas redes sociais, de justificativas para o cenário trágico que se aproxima. Mercenários de falsas igrejas neopentecostais usam o nome de Deus em vão para solidificar a ignorância, espalhar teorias da conspiração. Os mitos – ou mentiras- que potencializam ajudam no processo hipnótico, servem para despistar a realidade do darwinismo social. Mas se encaixam nos blocos vazios do sistema que vai sendo construído, à imagem e semelhança dos eleitores do “mito”.

Existe desde um plano (diabólico!) do PT e do PSOL para destruir Bolsonaro, uma “macumba” em frente à Rede Globo, certamente protagonizada pelos inimigos imaginários do já presidente e; até uma montagem tosca, que segundo os bolsominions foi uma homenagem da Fox News, onde aparecem edições envolvendo o PT e, até, um pequeno bilhete preso no dedão do pé de um cadáver, nas pedras do IML.

Existem vídeos insistindo no “novo” padrão da mulher bolsonariana: loira (para garantir a superioridade contra a negra), bela (padrão europeu) e do lar (madame carregando um cão chique nas mãos, símbolo do ócio da nossa elite, mãos especiais que não estão ocupadas lavando pratos, sim louvando ao senhor nas igrejas, dominadas por seus maridos com trejeitos herdados do patriarcado das casas grandes brasileiras. Homens brancos, de jeito bruto mas tementes a Deus e escondendo suas infidelidades do público).

Este “mundo novo” não inclui gays, trans, negros ou mulheres empoderadas. Os homens são os “cruzados”; as mulheres, silenciadas ou diminuídas para o macho prevalecer na relação.

Uma inofensiva senhora, branca, idade que aparenta bem menos, está feliz. Bolsonaro venceu a eleição; ela teme a Deus e segura um calendário da sua igreja católica numa das mãos como compensação pelo esforço da fé; sua família é abençoada; um dos parentes viajou para assistir à posse do Bolsonaro; o outro é um PM, de estilo típico (odeia direitos humanos, bandido bom é bandido morto); outro parente trai a mulher com outras, porém vai a igreja.

Impõe-se um ritmo normal neste mundo de hipocrisias. Na conversa dela, a própria família, os “vencedores”, seus dribles na morte, seus pequenos crimes (ir a pé ao médico sem que os de casa saibam, por exemplo).

Um circulo muito restrito, individualista, gente que não tolera “a desordem”. O catador frenético de latinhas está ali, criou-se um habito, talvez até da paisagem pitoresca. Tem-se a lamentar sua pobreza ou preguiça de algo melhor. Certamente Deus não exagera nos fardos de cada um. O importante é que a vida de pessoas como ela, nossa inofensiva senhora branca e bem tratada no pilates e natação, transcorra sem dificuldades.

Certamente Jair Bolsonaro representa estes vencedores. O sumo da hipocrisia, mas um cristão franco, ativo, aquele que precisa de preces, por certo para vencer as dificuldades dos “terroristas”, dos “petistas”, dos “comunistas”. Nunca é agradável ir contra os planos de Deus. E neste cenário de eleitos pela fé e escolhidos pela divindade, a democracia vai se tornando insignificante.

Até que os opositores de Bolsonaro reestabeleçam o mundo como ele é. Por isso, é sempre necessária a reação, nas ruas e nas redes sociais.