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Fugir da luta política é fugir da vida

Quando os espaços sociais são diminuídos, o determinismo ganha poderes sobre os destinos humanos. De caráter econômico centralizador ou religioso fundamentalista, esse espectro que acompanha as vidas imersas na pobreza gera desengano e morte, todos os dias.

Os modelos de gente que são pactuados entre organismos influenciadores, faz com que cresçam as barreiras que separam pessoas por território. Se o cenário de crise retém a mobilidade social, o conforto político partidário intensifica as barganhas horizontais, e os órgãos representativos da sociedade civil, salvo exceções, se deixam embalar pela garantia do próprio status quo. Resumo: não há força mobilizada pelos interesses do povo.

Pode surgir um grito indignado dizendo que o próprio povo deve mobilizar-se em autodefesa…contudo, a força de dispersão está muito melhor distribuída do que a de mobilização.

Aqui abrimos o reconhecimento legítimo aos movimentos de luta pela terra e produção agricultável; pois estes ganham força e arregimentam capital político em meio à crise, não sem pagar com vidas aqui e ali Brasil afora, por essa capacidade desenvolvida na própria luta pela sobrevivência.

Os demais, estão a perder fôlego. Seja pela vinculação partidária e comprometimentos decorrentes, seja pelo sufocamento que o próprio sistema cria e no qual investe, para enfraquecer opositores. Fato: estamos cada vez menos nas ruas, cada vez menos informados e instruídos para combater os desafios apresentados pelo arcaísmo travestido de mero tradicionalismo. O povo está sem referências.

Na cidade as lideranças comunitárias estão em crise de identidade e relacionamentos políticos; em maré constante, no vai e vem das gestões que começam e recomeçam sem mudar nada, em caráter positivo.

No interior os caciques continuam arbitrários, fortalecendo o coronel do passado no imaginário do presente.

Contra todos nós, o recuo da democracia.

No outro lado da força, o avanço da ortodoxia.

Extensa aura de ignorância histórica e política acoberta as truculências praticadas neste século XXI. Até as poesias esvaziaram e se transformaram em transes do ego poético.

Que falta nos faz neste século os escritos da subversividade! Que saudade da amorosa busca pela liberdade, que movimentou as páginas de outrora. Essa submissão contemporânea tem beleza plástica e indiferença.

Esse triste saldo de mortes estará abatendo nossa ânsia pela vida?

É hora de voltar a ler. Os poetas e os profetas precisam voltar a escrever! A política que ferve na veia expulse o medo e liberte a força, pois a hora se renova e o cheiro de mofo só diminui sob os efeitos dos raios solares.

Abre a tua janela e deixa a vida entrar. Se possível abre as portas e sai de casa, pois viver tem riscos, mas esconder a vida também mata.

Quiçá venham novas linhas e outras páginas.

 

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