EUA criam neurônio com Parkinson jovem

O neurônio com a doença foi produzido a partir de células da pele de quatro pacientes, sendo dois saudáveis e dois com a doença

Folha

Cientistas da Universidade de Nova York, em Buffalo, conseguiram desenvolver pela primeira vez em laboratório um neurônio vivo com o Parkinson “juvenil”, que aparece antes dos 40 anos.

O neurônio com a doença foi produzido a partir de células da pele de quatro pacientes, sendo dois saudáveis e dois com a doença.

Arte

A partir dessas células, os pesquisadores desenvolveram as chamadas células-tronco iPS, que podem se transformar em qualquer célula –incluindo neurônios.

Os neurônios vivos com Parkinson, diferentemente dos neurônios vivos saudáveis, apresentam uma mutação em um gene específico que provoca a sua degeneração.

Essa alteração, que acontece no gene parkina, impede o controle de uma enzima que regula a oxidação de um neurotransmissor chamado dopamina. Com isso, o neurônio se oxida e as células são degeneradas.

O trabalho, publicado na “Nature Communications”, joga uma luz sobre o mal de Parkinson comprovadamente causado por mutação genética –até 10% no total de casos. Os demais tipos têm causas desconhecidas.

“Os sintomas do Parkinson genético e não genético, no entanto, são os mesmos”, diz o neurologista João Carlos Papaterra Limongi, da USP.

Os trabalhos com células-tronco iPS começaram em 2007. Desde então, cientistas de todo o mundo têm trabalhado para transformá-las em células ligadas a doenças neurológicas.

Divisor de águas

Isso porque é impossível estudar neurônios vivos humanos, que estão no cérebro e não podem ser retirados.

“Essa é a primeira vez que neurônios humanos ligados à dopamina foram gerados a partir de pacientes com Parkinson com mutações na parkina”, diz Jian Feng, principal autor do estudo.

No caso do Parkinson, há um problema adicional que atrapalha as pesquisas: os modelos animais não podem ser utilizados porque a doença se manifesta de maneira diferente.

“Antes, não poderíamos nem pensar em estudar a doença em neurônios humanos”, comenta Feng.

“Justamente por isso as células-tronco iPS são tão importantes”, explica o neurocientista Stevens Rehen, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que trabalha com esse tipo de célula.

Apesar de os cientistas dos EUA terem estudado um tipo raro da doença, o trabalho pode ajudar a compreender como funciona a mutação do gene parkina.

“Mas ainda é cedo para se falar em tratamento ou cura. As pesquisas com células-tronco estão começando”, lembra o neurologista Arthur Oscar Shelp, da Unesp (Universidade Estadual Paulista).

A pesquisa dos EUA foi financiada pela Fundação Michael J. Fox, criada pelo ator que protagonizou os filmes “De Volta Para o Futuro”. Fox recebeu o diagnóstico da doença aos 30 anos.

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