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Esquerda-liberal e o voto acuado

O degelo moral que revela as cavernas estratégicas utilizadas pela política partidária no Brasil deve servir para algo mais do que inflamar emoções e alimentar comoções diariamente, o caráter de estudo quando prevalece, além de proteger nossos estômagos também nos ajuda a mapear vias úteis, neste mar de larvas causticantes.

A sociedade brasileira é refém do maniqueísmo ideológico que ganha força com o avanço do liberalismo, que por sua vez, tenta dialogar com todos os tipos de interesses em benefícios da manutenção estrutural. Atualmente, a criação de personagens do “mal”, do “menos mal”, do “quase bem” e até do “bem”, tem conduzido o tablado eclético para a desagregação que leva à perda do senso de lógica mais simples.

Como exemplificar? Fácil: nos deixando acuados dentro de perspectivas controladas pela força invisível, a pressentida “mão que a tudo alcança” chamada mercado, poder dominante, representação onipresente do deus capitalismo, que indica possibilidades de votos dentro do mesmo cercado, mas com nuances diferenciadas.

No estado de Alagoas, por exemplo, o calheirismo marcou o campo eleitoral anunciando no hoje governador Paulo Dantas o rosto do escolhido. Do lado de lá vigorava a associação ao bolsonarismo. Paulo Dantas apoiou Lula, portanto, foi marcado com a tarja do bem.

Esse furdunço levou os eleitores a esquecerem vida pregressa como cidadão e político, maquiando o perfil coronelista de Dantas, advindo da política sertaneja eivada de truculências e durezas, com portas cerradas aos relacionamentos civilizatórios, em caráter sócio-histórico, onde os direitos dos cidadãos reclamam diálogos com seus representantes democráticos.

Eleito, a marca histórica emerge. É fato inconteste.

O Partido dos Trabalhadores em Alagoas vem arrastando correntes para os lados que o calheirismo designa, isso quem ousará negar?

No bojo das relações políticas dessa dita esquerda, sindicatos participaram da campanha ao governo com claro apoio a Paulo Dantas, que agora se revela duro de negociar e astuto no uso do aparato de punição, quando a primeira oportunidade de negociação salarial redundou em uma greve por poucos mais de dez porcento de aumento para os trabalhadores da educação e o mesmo emplacou menos da metade sugerida e acionou a ilegalidade da greve com multa altíssima.

Sim, a sociedade se tornou refém das construções bem versus mal no jogo da política.

Partidos que se dizem de esquerda fingem não vestir o hábito do liberalismo e negociam contra o “mal” arregimentando votos para os “escolhidos”, passando equidistantes dos perfis populares, comprometidos com as causas dos trabalhadores, porque estes não recebem permissão para mostrarem os rostos nas disputas eleitorais.

Saída sempre haverá. A habilidade para encontrá-la, tem que ser forjada na luta. Não haverá benefício para o trabalhador enquanto a negociação for realizada em gabinetes.

De Alagoas para o Brasil o exemplo serve.

Nessa ideia de luta contra o “mal” o cenário político não nos permite usar a razão como critério de escolha, pois tudo implica em uma orientação comovida, embebida em celebrações de bolhas assépticas, apostando tudo na despolitização do cenário emotivo, identitário, prenhe de jargões e decidido a cancelar divergentes.

O voto em Lula não deve ser razão para silêncios improdutivos, porque no governo liberal do PT a habilidade mais destacada tem sido a do Centrão.

Somente enxergando o horizonte encontraremos outros caminhos.

Boa sorte Brasil.

 

 

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