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Damares ameaça e expõe jornalistas que escreveram sobre aborto

Desde primeiro de janeiro de 2019 que em nossos debates, alertamos para a necessidade de desalojar conceitos sobre ditadura, haja vista a forte tendência que possuímos de relacionar ao cenário de 64 em diante. Pois uma ferida tão grande aberta em uma sociedade não se dissolve facilmente. É compreensível.

No entanto, na era digital, nos reinados das redes sociais, novos territórios foram criados, e outros campos de batalhas foram erguidos. Pelas redes sociais o Brasil bolsonarista já conseguiu gerar sua cota inicial de exilados. Prestemos atenção!

O caráter fascista deste governo nunca prescindiu do timbre religioso. Este ponto se tornou central no debate político atual.

O fascismo quando se eleva, ocupando territórios institucionais, utiliza as forças estruturais contra aqueles que elege como inimigos, e suas perseguições podem ser devastadoras.

Considerando todas estas possibilidades, urge fortalecermos o debate antifascista, repugnando ações de personalidades governamentais que manipulam o senso de religião das massas para perseguirem pessoas e movimentos.

A ação da ministra Damares colocou mulheres em risco, após realização de trabalho jornalístico sobre aborto.

Além de expor as profissionais às violências digitais, a ministra conseguiu que o veículo de comunicação fosse tarjado como revista que “ensina abortar”, quando na verdade a matéria foi feita seguindo e mostrando orientações da Organização Mundial de Saúde.

Além do dissabor dos assédios digitais as jornalistas estariam sendo denunciadas pela ministra ao Ministério Público Federal por incitação ao crime, segundo parecer dela mesma.

A ação de Damares tem o repúdio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e merece o repúdio da sociedade liberta dos fundamentalismos, pois não é coerente deixar passar arbitrariedades com este perfil nefasto.

Concordar ou discordar da prática do aborto, não nos legitima para hostilizar profissionais da imprensa que realizem trabalhos de informação sobre esta temática que assombra a história de muitas mulheres, em nosso país desigual e pleno de relações injustas, com vastas punições reservadas à mulher.

Como foi pontuado no início do texto, atentemos para os espectros ditatoriais deste tempo, e saibamos reconhecer que o avanço de um estado religioso é uma ameaça que paira sobre as políticas de informação e cidadania em nosso país.

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