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Cristão e justiça seletiva: vitória do egoísmo

A liberdade é território distante, para ser alcançado quando a bagagem do egoísmo for verdadeiramente esvaziada de poderes sobre nossas vidas, nossos pensamentos e atitudes.

O egoísmo combate a liberdade, porque seu trunfo é a projeção do ego. Sua vibração não concebe coletividades, diferenças, diversidades; seu travo é reconhecer a legitimidade e o valor do externo, do outro, sem perder o valor próprio. Egoísmo chora e faz chorar.

“O egoísmo, esta chaga da humanidade, deve desaparecer da Terra, porque impede o seu progresso moral”, no diz o Evangelho Segundo o Espiritismo.

Mas quem nos dirá que o progresso moral não é o moralismo?

A maturidade espiritual. Sua voz mansa que possui força para acalmar tumultos íntimos, nos modificará; de perseguidores nos tornaremos adeptos, de Saulo a Paulo, seremos atraídos pelo fogo quântico da sarça, tal qual ocorreu com o discípulo tardio de Jesus, condição que já podemos possuir.

A face serena do amor é uma virtude conviviológica, quando aqui na Terra aprendemos a respeitar sem transformar esta posição em conivência para com a violência da força. Porque todos nós lutamos, combatemos e escolhemos lados, e negar este movimento é coisa própria de quem segura territórios de conforto, o que em muitos casos significa atrasar a evolução.

“O egoísmo é portanto o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem. Digo coragem, porque esta é a qualidade mais necessária para vencer-se a si mesmo do que para vencer aos outros.” Reitera o Evangelho. E aquele outro a quem odiamos, porque não segue nossos padrões de crenças, de afetividade, de consumo e expressões sociais, se torna mote de autoanálise; buscar a causa do ódio em nós mesmos é um ato de extrema coragem.

Desejar que todos rezem a nossa cartilha sempre foi uma projeção mal direcionada, e por sabermos disso, generalizamos padrões, porque acusar em nome do todo esconde as nossas responsabilidades no ato. Mas, e a consciência?

O eurocentrismo das referências sociais nos desafiam o intelecto, e já não acomoda o “porque sim” como resposta para o racismo e intolerância religiosa. Como admitir isso? Como negar isso?

A heteronormatividade que alimenta a homofobia, lesbofobia, trasnfobia, atua no eixo na nossa sanidade relacional. Como olhar de frente para isso? Há como continuar lutando para legitimar isso?

O machismo reclama vaga na estrutura da normalidade. Expressa sua sanha em feminicídios, opressões, domínio dos territórios alheios; outros corpos submissos. Como aceitar que isso está em nós? Como nos livraremos disso?

Preconceitos e discriminações que utilizamos diuturnamente e projetamos como verdades evangélicas, estão nos colocando em, risco de mergulho profundo no egoísmo ensandecido. O Evangelho nos alerta: “Que cada qual, portanto, dedique toda a sua atenção em combatê-lo em si próprio, pois esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho, é a fonte de todas as misérias terrenas.”

A caridade mais difícil de fazer é aquela que pede reformulação íntima, fenômeno silencioso que ocorre na nossa própria tábua de valores e crenças, em respeito ao outro. Esse exercício pedagógico nos faz crescer em espírito. Pois concedemos a nós mesmos o direito de aprender, desenvolvendo aptidões relacionais para além das convenções. Acendendo em nossos olhos o brilho do amor!

O egoísmo nos isola do sofrimento alheio, nos torna surdos aos gritos de dor, porque lavamos as mãos para com a história comum, nos importando apenas com as redomas construídas e mantidas para o culto dos vencedores. Mas o Evangelho queima em nossos corações: “Jesus vos deu o exemplo da caridade, e Pôncio Pilatos o do egoísmo. Porque, enquanto o Justo vai percorrer as santas estações do seu martírio, Pilatos lava as mãos, dizendo: Que me importa!”

Nós lavamos as mãos quando a injustiça afeta os nossos desafetos, aqueles a quem atribuímos culpa pelos nossos desenganos, e nos tornamos coniventes com o erro. O egoísmo vence em nós cada vez que celebramos a queda dos adversários políticos e ideológicos por meio de sistemas plantados para manipular a fé pública. O egoísmo não nos permite ser justos, porque quando somos egoístas não queremos admitir que estamos errando.

A sociedade  desigual é assassina de verdades desconhecidas por todos nós, mas que só podem existir, com a nossa participação legitimadora. O amor que sai das nossas bocas se resume a palavras de agrado.

Em Jesus o amor levou à cruz.

Nossa percepção de caridade é utilitarista, infantilizada. Porque o ego dirige nossas ações pseudo-caritativas.

Não é fácil abrir as cortinas do ego e olhar para nossas capacidades de coerção, manipulação, adaptação das verdades aos nossos interesses inconfessáveis.

“É a esse antagonismo da caridade e do egoísmo à invasão dessa lepra do coração humano, que o Cristianismo deve não ter ainda cumprido toda a sua missão”, justifica para nós o trecho do Evangelho kardequiano. Porque estamos atuando como crianças birrentas diante das grandezas espirituais, na tentativa vã de moldar o próprio Cristianismo aos moralismos e medos que os poderes terrenais nos sugerem, diante da liberdade alheia.

O caminho parece ser contrário ao que a maioria está seguindo. Porque há ódio e intolerância nas portas largas da fé privilegiada, comercializada, vilipendiada.

O amor não permanece onde a morte domina pelo discurso do medo; amor é energia de libertação e vida! Amar a Jesus é responsabilidade de crescimento no amar a liberdade, desde a própria, à externa, que pertence ao outro!

“E é a vós, novos apóstolos da fé, que os Espíritos superiores esclarecem, que cabem a tarefa e o dever de extirpar esse mal, para dar ao Cristianismo toda a sua força e limpar o caminho dos obstáculos que lhe entravam a marcha.” Está dito, o Evangelho é assertivo, mas a liberdade de usarmos seus ensinamentos para adiar nosso crescimento moral e espiritual, continua em nossas mãos e escolhas.

Assim como podemos molhar nossos olhares em seus ensinamentos para direcionar o entendimento das coisas reais, no compromisso com a Justiça para todos, não apenas para quem escolhemos. A luz da liberdade guiará os cristãos!

 

Uma resposta

  1. Fora esquerda podre,nefasta,maligna.Lavem sua boca podre pra falar dos Cristãos,vcs sao lobos em pele de ovelha.

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