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Collor ainda deve autobiografia (e seu novo livro serve para apoiar pé de mesa)

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Em 254 páginas do livro em que reúne artigos, discursos e apartes (Réplica para a História: uma Catarse, editado pelo Senado Federal), o senador Fernando Collor encarna o personagem que ele mesmo inventou para suas agruras: o de ex-presidente da República, num esforço constante de revisar os livros de História, quando eles tratem do seu processo de impeachment.

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É assim desde 1992.

Foi assim na primeira eleição pós impeachment que disputou e foi derrotado, em São Paulo (2000).

Continuou na disputa e derrota ao Governo alagoano (2002);

na vitória ao Senado (2006);

disputa e derrota ao Governo mais uma vez (2010); e

vitória na reeleição (2014).

E segue nos seus silêncios sobre as investigações na Lava Jato, avançando sobre ele.

Há lacunas que o jornalismo pode ajudar a preencher na História do Brasil.

Aos poucos, jornalistas escarafuncham o regime Militar, através de documentos, depoimentos marcantes ou personagens vivos.

A redemocratização- à medida que os anos passam- vai merecer (ou está merecendo) o mesmo tratamento.
Collor, que é jornalista, quer recontar o passado no próprio testemunho, ao estilo.

E permanece como ainda acredita ser e segue sendo tratado pela grande imprensa: um ex-presidente da República, personagem menor  no cenário nacional.

E, no caso de Collor, carregando os mesmos vícios desde quando era candidato ao Planalto, em 1989.

Basta ver na reprodução do (histórico) embate com Pedro Simon (engula, digira…, na página 226).

Ainda nas 178 primeiras páginas do livro, arregaça uma enfadonha narrativa sobre si mesmo (começa com o impeachment dele mesmo, fala de sua absolvição no STF  e termina no impeachment de Dilma Rousseff).

Collor é vítima do próprio espelho. Talvez por achar- se um personagem feio em Brasília, a imagem não lhe cai bem. E reinventa-se em seu arquétipo: presidente da República.

“Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro…”, disse Machado de Assis

O ex-presidente, ainda senador, deve uma autobiografia sobre os curtos anos na chefia do Brasil.

Tudo escrito, com a coragem de abrir ao público as cortinas dos bastidores do homo politicus.

Esta espécie ao natural, como Collor mostrou-se a Pedro Simon.

Por enquanto, seu novo livro é mais um apoio para pé de mesa em falso, prenda de final de ano distribuída de graça porque, se pago, encalharia nas bancas ou distribuidores.

Ou serve para fazer a alegria da criançada, rabiscando as primeiras letras, (ainda) inutilmente escritas por Collor.

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