Cerca de 90% das pessoas que tem colesterol alto familiar não sabem que são portadoras da doença

Diário de Petrópolis

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Existem no Brasil até 400.000 pessoas com colesterol alto de origem genética, mal que pode levar ao infarto e ao AVC antes dos 50 anos de idade. O mais alarmante: somente 10% delas sabem que estão doentes.

“É uma doença mascarada. Se você não prestar atenção, ela passa e te pega. Não sabia que existia uma doença genética relacionada ao colesterol”, conta Natércia da Silva (35), enfermeira que descobriu por acaso, somente há alguns meses, que era portadora de hipercolesterolemia familiar (HF). Como não apresentava colesterol muito alto, ela só descobriu que tinha HF depois que sua mãe foi diagnosticada com a doença no Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP), graças ao Programa de Rastreamento Genético de Hipercolesterolemia Familiar, o Hipercol Brasil. A partir da constatação do problema de sua mãe, outras pessoas da família fizeram o exame genético. Resultado: entre as cinco irmãs, só Natércia tinha a doença, que também se manifestou em uma das suas três tias por parte de mãe. E o filho de Natércia, de 16 anos, também passa por exame no Incor. Ele apresenta colesterol alto desde pequeno e há grande probabilidade de que ele também tenha a HF.

Agora, contudo, o diagnóstico adequado da hipercolesterolemia familiar vai mudar a história da família de Natércia. “Com o tratamento correto, é possível retardar de 10 a 30 anos a mortalidade em pessoas com esse mal, com melhora substancial de sua qualidade de vida, já que elas terão menos eventos cardiovasculares ao longo dos anos”, explica o cardiologista do Incor Dr. Raul dos Santos Filho, coordenador do Hipercol.

Infelizmente, cerca de 360.000 brasileiros – aqueles 90% que sequer imaginam que têm a doença – não se beneficiarão dessa possibilidade que lhes abre um diagnóstico correto para a HF, por ignorarem a sua condição metabólica. É bem provável que uma parte deles passará anos indo de médico em médico sem ter solução para seu colesterol alto. Nesse meio tempo, o processo de aterosclerose no seu organismo, acelerado desde o nascimento, irá evoluir mais rapidamente que o comum, aumentando de 10 a 20 vezes o risco de obstruções nas veias e artérias do coração (infarto) e do cérebro (acidente vascular cerebral).

Foi assim que aconteceu com o consultor de internet Luiz Antonio Nascimento (49), que já teve três infartos, o último no ano passado. Mesmo com histórico de HF na família há gerações – seu avô materno, seu pai e sua irmã, com apenas 27 anos, morreram de problemas cardíacos -, Luiz acreditava ser um homem saudável.

Magro e sem nenhuma queixa aparente, ele foi surpreendido pelo primeiro infarto aos 34 anos, por causa do colesterol alto. “Passado o susto, relaxei e aos 42 anos tive outro infarto”, conta ele, que, só então, teve o diagnóstico de HF.

Com o reconhecimento tardio da doença, ele não pode evitar o terceiro e mais grave infarto, em 2011, que o levou a receber dois stentes para desobstrução de artérias do seu coração. Por isso, aconselha: “façam exercício, controlem a alimentação e realizem um check-up periódico, pois essa é uma doença silenciosa, que pode ser fatal”.

COMO TRATAR O COLESTEROL

O colesterol alto está comumente associado a maus hábitos alimentares, à falta de atividade física e a fatores diversos, como disfunção hormonal e obesidade. Nesses casos, geralmente a administração de estatinas (em média, 10 mg), associada à dieta de baixo colesterol e à prática de atividade física costuma equilibrar os níveis de colesterol no sangue.

Na hipercolesterolemia familiar, contudo, o tratamento medicamentoso tem que ser mais agressivo para dar resultado. A terapia clássica nesses casos inclui estatinas em doses maiores (40 mg ou mais) associadas a outro medicamento, o ezetimibe. A adesão à dieta alimentar de baixo colesterol deve ser total, assim como a prática de atividades físicas regulares.

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