Brasil concentra 1/3 dos casos de tuberculose nas Américas, diz governo

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Dia Mundial de Combate à Tuberculose Na foto: Autora: Carol Garcia / AGECOM

O Brasil concentra um terço dos casos de tuberculose nas Américas, cerca de 72,6 mil novos casos por ano e 4,7 mil óbitos, diz o governo federal. Por essa razão foi criado, na última terça-feira (18), um comitê interministerial para eliminação da tuberculose.

Moradias precárias, com grande número de pessoas e com pouca circulação de ar é o cenário ideal para a propagação da doença infecciosa. Este fato demonstra o caráter social da propagação da tuberculose e das características socioeconômicas de suas maiores vítimas.

O Ministério de Saúde irá coordenar as ações do órgão que vai funcionar até janeiro de 2030, informa a Agência Brasil.

Os impactos das desigualdades sociais na propagação e evolução da doença são evidentes. A pobreza e a desnutrição são agravantes que afetam diretamente a possibilidade de morrer em decorrência da tuberculose, que é uma doença curável e com tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O número crescente de infectados pela bactéria conhecida como bacilo de Koch, ou Mycobacterium tuberculosis, tem chamado atenção dos órgãos públicos de saúde. Apesar da infecção pulmonar ser a mais frequente, ela também pode atingir outros órgãos e sistemas do corpo.

Só em 2022, 78 mil novos casos da doença foram notificados no Brasil. O número corresponde a um aumento de 4,9% em relação a 2021.

Em Alagoas os casos também aumentaram: 1053 novos casos foram notificados em 2022, além de 85 óbitos pela doença.

O Brasil teve recorde em mortes por tuberculose no ano de 2021: cinco mil casos no total. Esse foi o maior número registrado em dez anos.

No mesmo período, Alagoas registrou 61 óbitos e 987 novos casos de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau).

Homens de 20 a 64 anos tem risco três vezes mais elevados de contrair a doença do que mulheres na mesma faixa etária. No entanto, 2,7 mil casos em menores de 15 anos foram contabilizados no Brasil em 2022. Crianças de até 4 anos correspondem 37% das notificações de acordo o Ministério da Saúde.

A vacina BCG, que protege contra formas graves da tuberculose, registrou baixa cobertura vacinal no Brasil. O imunizante faz parte do Programa Nacional de Imunização (PNI) e apesar de obrigatória ao recém-nascido, apresentou, segundo dados do Datasus, uma queda de 105% da cobertura vacinal em 2015 e 68,6% em 2021. Os dados são alarmantes.

No caso de Alagoas, a situação piora com as desigualdades: 36,7% das famílias alagoanas estão enfrentando algum nível de falta de alimentos e passando fome. Estes dados foram divulgados em setembro de 2022 pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN).

O fato é que não dá mais para negar que a saúde pública não será eficiente se não levar em consideração as desigualdades sociais, que incidem sobre os processos de adoecimento e nas condições que levam à cura.

“Do ponto de vista social, tivemos um processo de piora de todos os indicadores sociais nos últimos cinco a seis anos. Com isso, a tuberculose, que é uma doença basicamente [causada] por esses determinantes sociais, teve recrudescimento nas taxas de mortalidade, de incidência e mesmo de cura”, esclareceu o diretor do departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Draurio Barreira Cravo Neto.

Segundo o Ministério da Saúde, 48% das famílias afetadas de alguma forma pela tuberculose têm gastos com a doença que comprometem 20% da renda. Em Alagoas, a renda per capita mensal é de R$ 935 – bem menor que o salário mínimo nacional – o que compromete ainda mais o acesso ao diagnóstico precoce, acompanhamento médico e adesão ao tratamento de seis meses.

O secretário estadual de saúde, Gustavo Pontes de Miranda, admitiu que a tuberculose deve ser encarada também como um problema social. Postura que se justifica, já que os dados sobre Alagoas demonstram um estado em que os mais pobres padecem com um abismo social secular ainda sem resolução.

“Além da prevenção pela vacina, as pessoas devem lembrar que o tratamento dura seis meses e deve ser levado até sua conclusão, sob risco do paciente desenvolver formas mais resistentes da tuberculose em casos de abandono do tratamento”, explicou o secretário.

“A tuberculose pode atingir qualquer pessoa, mas é mais comum em pacientes imunocomprometidos, quando o paciente tem alguma doença que diminua a imunidade ou está fazendo um tratamento que afete o sistema imunológico, por exemplo: tratamento para doença autoimune, pessoas que passaram por transplantes, pacientes que fazem tratamento com corticóide em doses altas por período prolongado têm mais facilidade de serem acometidos pela tuberculose”, reiterou o infectologista do Hospital Escola Helvio Auto (HEHA), Fernando Maia, em entrevista à Agência Alagoas.

A coordenadora do Programa Estadual de Controle da Tuberculose, Alda Rodrigues, informou que 11% das pessoas diagnosticadas com tuberculose também se encontravam infectadas pelo vírus do HIV.

“A tuberculose é a principal causa de morte entre as pessoas vivendo com HIV e, para acabar com as mortes, deve-se garantir o acesso oportuno ao diagnóstico, tratamento preventivo e terapia retroviral”, orientou.

Sintomas e diagnóstico

A tuberculose é caracterizada por tosse persistente, por mais de duas semanas, além de produção de catarro, febre, sudorese e cansaço.

“É importante que as pessoas procurem o Posto de Saúde mais próximo de sua residência, sempre que os primeiros sintomas apareçam. O Diagnóstico precoce é essencial para evitar o agravamento do quadro e sequelas da doença”, lembrou o secretário estadual de saúde Gustavo Pontes de Miranda, reforçando ainda que os pais devem levar seus filhos para se vacinarem com a BCG para prevenção da doença.

*Com informações da Agência Brasil e Agência Alagoas

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