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‘Bolsonaro prefere não arriscar sua imagem nas eleições deste ano’

Odilon Rios
Especial para o EXTRA

O segundo ano de Jair Bolsonaro mostrará os rumos de seu mandato. O tradicional presidencialismo de coalizão- ministérios distribuídos em função do poder dos partidos- deixou de existir. O Congresso tocará uma agenda própria, dois governadores se animam a disputar a cadeira hoje ocupada por Bolsonaro em 2022 e os interesses eleitorais atraem ou afastam aliados.

A análise é do cientista político Alberto Carlos Almeida, blogueiro da revista Veja. Ele falou ao EXTRA com exclusividade:

Hélio Schwartsman, em artigo publicado na Folha de São Paulo em 30 de abril do ano passado, chamou Bolsonaro de “presidente das pequenas coisas”. Nesse primeiro ano, o que ficou mais visível ou evidente no mandato dele?

Ele se afastou do tradicional presidencialismo de coalizão brasileiro. O que é isso? Você distribui os ministérios em função do poder dos partidos, do tamanho das bancadas que apoiam o Governo e, em função disso, os partidos votam com o Governo, dando um rumo e os partidos seguem graças a essa distribuição de cargos, de emendas. Sempre foi isso com Collor, Fernando Henrique Cardoso, Lula, pelo menos no primeiro mandato de Dilma, foi nessa direção. O Bolsonaro fez um ministério distante da Câmara e do Senado, contemplou mais algumas figuras como o DEM, o Rodrigo Maia, o Centrão. E, por outro lado, a Câmara deu continuidade ao que começou com Dilma: a aprovação de emendas obrigatórias. Hoje você tem quatro tipos de emendas obrigatórias: as individuais, as de bancada, as do relator e as das comissões, de tal modo que os deputados dependem nada ou menos ou muito pouco do Governo Federal para liberação dos recursos. Com isso, Bolsonaro vai enviar proposições que vão ser submetidas a mudança do Congresso, ao bel-prazer das duas casas. Funcionou no primeiro ano para a reforma da Previdência. Mas não sabemos como funcionará a partir de agora.

Direita e extrema-direita estiveram unidas com Bolsonaro mas há recuos muito claros, como o do presidente do Congresso, Rodrigo Maia, do governador de São Paulo, João Doria, e do governador do Rio, Wilson Witzel. Qual a surpresa deles com Bolsonaro?

Muitos políticos ou forças políticas apoiaram em função de sua conveniência eleitoral, de não estarem próximos ou nunca terem sido próximos do PT, como o Rodrigo Maia, por exemplo. O presidente da Câmara esteve com Bolsonaro na eleição de 2018, o Doria por conta do eleitorado de São Paulo, Witzel em função da necessidade de se fazer conhecido no Rio e possibilitar a sua vitória que acabou sendo inteiramente surpreendente. Mas, uma vez eleito, cada um tem seus interesses. O Rodrigo Maia conhece o Bolsonaro de longa data, foram colegas na Câmara por muitos anos. Ele é na presidência a mesma figura que foi como deputado. Não houve surpresa. O presidente da Câmara é um liberal na economia. Então, se o Governo apresenta proposições mais liberais na economia, haverá sempre a tendência de Rodrigo Maia apoiá-las. Por outro lado, ele não é conservador no que tange os costumes. O eleitorado dele no Rio é diferente do eleitorado de Bolsonaro. João Doria e Witzel almejam a Presidência. Então, não podem ficar próximos de Bolsonaro, têm de marcar algum tema ou alguma diferença com relação ao presidente.

Bolsonaro já disse mais de uma vez que não vai participar das eleições deste ano. É possível o presidente da República ignorar essas discussões municipais em seu primeiro teste de popularidade nas urnas após uma votação majoritária?

Se ele conseguir formar uma agremiação partidária no próximo ano, o que é improvável, mas se ele conseguir seria muito pouco organizada para disputar uma eleição com chances de vitória. Talvez se ele tivesse um partido grande ou até o PSL, ele viesse a se empenhar na eleição. Mas, nessas circunstâncias, ele preferiu não colocar em risco a sua imagem, pelo menos pensando nas eleições de 2018, de vencedor.

O Brasil do futuro com Jair Bolsonaro promete ser que tipo de nação?

Uma combinação entre alternância de poder, algo que é normal nas democracias. Os dois lados do espectro político de tempos em tempos são representados. Aqueles que são de esquerda se sentiram representados durante o Governo do PT, aqueles que são de direita se sentem representados agora e cada um realiza um conjunto de coisas que atende a seus eleitorados. Esse conjunto de coisas muitas vezes pode ser mantido. O PSDB controlou a inflação e isso foi mantido pelo governo do PT, que criou políticas sociais de redistribuição de renda. E, ainda que Bolsonaro seja contra, vem sendo mantido. O Fernando Henrique privatizou várias empresas e o PT não reestatizou e as manteve privadas. Todas as realizações atendem a diferentes lados da sociedade. Isso é o reconhecimento de que as sociedades são plurais. Faz parte da democracia.

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