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Bolsonaro, Curió e seus mortos na ditadura e na pandemia

Como não é capaz de administrar uma pandemia e como o Brasil corre o risco de virar um dos propagadores do coronavírus pelo mundo, Jair Bolsonaro agita suas redes sociais. Fora da agenda, recebeu o tenente-coronel reformado do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, 85, conhecido como “Major Curió”, símbolo  do massacre na ditadura, banhado em sangue pelos mortos insepultos na região do Araguaia.

Curió é um fantasma premiado pelo Estado por transformar gente em defunto e é protegido pela lei da Anistia.

Jair Bolsonaro recorre ao passado para sobreviver ao presente. No domingo, as saudades da repressão o fizeram incitar uma multidão para gritos contra a democracia, a favor de um novo AI-5 para fechar- mais uma vez- o Congresso e o STF e, talvez, colocar em prática seu objetivo de matar “uns 30 mil”.

A pandemia já faz este serviço.

Nesta segunda, Bolsonaro seguiu sua sessão nostalgia. No dia da morte de Aldir Blanc, o compositor e escritor brasileiro que era uma das vozes contra a ditadura, recebeu Curió, aquele que matou e ocultou cadáveres, proibindo famílias de chorarem seus mortos, símbolos das graves violações aos direitos humanos.

Na foto pendurada nas redes sociais, Bolsonaro exibe seu largo sorriso diante do seu auto retrato: Curió. Está feliz por se enxergar num assassino, está feliz por seus mais 7 mil mortos de uma pandemia, chacina estatal que virou programa de Governo, pessoas sem direito a enterro digno, alguns morreram em casa outros em enfermarias ou UTIs superlotadas.

Qualquer semelhança com a ditadura não é coincidência.

Bolsonaro é um verbete: “E daí?”.

Areias de cemitério não servem para nada, não denunciam nada.

Por fabricar mortos, Curió virou nome de cidade, Curionópolis, no Pará, onde ajudou a “organizar”, ao estilo, a pedido do presidente João Figueiredo, o garimpo de Serra Pelada.

O marechal Floriano Peixoto também ganhou nome de cidade: Florianópolis, homenagem aos tantos rebeldes arrancados de seus corpos em Santa Catarina pelos soldados do “marechal de ferro”.

Curió era um soldado da ditadura; Floriano presidia uma ditadura.

Bolsonaro é um filhote da ditadura.

Quer um regime de exceção para competir. Competir por quem mata mais ou comete mais crimes contra a humanidade. Um anti gozo do capitão, uma sede de entrar para a história como um Hitler tropical.

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Este 4 de maio de 2020 leva Aldir Blanc para as estrelas.

O seu O Bêbado e O Equilibrista laça, para fora do planeta, essa noite de aflições:

Mas sei, que uma dor assim pungente
Não há de ser inutilmente, a esperança
Dança na corda bamba de sombrinha
E em cada passo dessa linha pode se machucar
Azar, a esperança equilibrista
Sabe que o show de todo artista tem que continuar

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