Construir prédios escolares hoje é uma tarefa relativamente fácil e vira até propaganda eleitoral, mas nem sempre foi assim.
O primeiro prédio escolar construído em Maceió só virou realidade depois de uma grande vaquinha, que captou dinheiro até de um certo brigadeiro Deodoro da Fonseca (mais tarde marechal e primeiro presidente da República), seu irmão, o general Hermes, e outros numa lista que somou 300 pessoas com doações até de fora da província alagoana.
O prédio ainda existe, está no Centro de Maceió, em frente à praça Deodoro. Atualmente abriga a Academia Alagoana de Letras.
História
Humberto Vilela, em seu livro A Primeira Casa Escolar de Maceió (Edufal, 1980), conta que alunos e professores sofriam em prédios alugados pelo poder público para abrigarem escolas.
Havia até o pagamento de uma gratificação ao professor que aceitasse ensinar e ceder a própria casa como escola, além de um dinheiro a mais para a compra do querosene para lampiões iluminando salas de aulas improvisadas, não raro sem janelas ou ventilação, outras com aspecto de prisões e sem higiene.
Em 1879, o presidente da província, Cincinato Pinto, teve a ideia de iniciar uma campanha para arrecadar dinheiro para construir o primeiro prédio escolar de Maceió.
Em 7 de setembro daquele ano, foi lançada a pedra fundamental da obra. Houve banda, festa e a apresentação da pedra em mármore “O Povo À Infância”, que até hoje está exposta no topo do edifício, além, é claro, do lançamento da vaquinha.
A arquitetura prometia ser em estilo jônico, simples, elegante e apropriada ao seu fim, com dois jardins laterais separando a entrada da escola para meninos e meninas.
Vieram os primeiros problemas.
A proposta vencedora para a planta da obra foi do italiano Luiz Lucarini quando o desenho deveria ficar a cargo de José Vasconcelos. A planta estava até exposta na “Paris na América”, registra Humberto Vilela.
Venceu Lucarini, o mesmo que projetou o prédio do Tribunal de Justica, o Teatro Deodoro (na mesma praça Deodoro, onde está o prédio escolar), o Palácio Floriano Peixoto e outras obras na capital alagoana.
A inauguração das Escolas Práticas para Ambos os Sexos foi às onze da manhã, em 9 de junho de 1881. Menos de um ano depois, o mau cheiro dos banheiros inviabilizava o primeiro prédio escolar. De fato, os alunos ficaram pouco tempo ali.
Como a educação não era meta prioritária dos governos alagoanos (apenas nos discursos), os alunos foram para outro lugar e o prédio abrigou algo mais nobre: o Senado Estadual. Depois, virou o Supremo Tribunal do Estado, instalado em maio de 1882.
No início do século 20, virou a seção feminina da Escola Modelo. Em 2 de dezembro de 1925, no centenário do imperador, virou escola Dom Pedro II; um ano depois, foi construído o pavilhão infantil desta escola.
Em 4 de novembro de 1966, o primeiro prédio escolar virou a Academia Alagoana de Letras.
“O Povo À Infância” segue no topo do edifício. Escola mesmo só na lembrança. Para os que lembram.
