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A fome é bem-vinda no Nordeste

Parece desumano afirmar tal heresia, e seria mais humano, se assim não o fosse, sem dúvida! Porém, para os políticos locais, o cenário é grato ao micropoder.

Nunca existiu cabresto mais eficaz do que a fome!

Prefeitos e vereadores com sanha de ratazanas, já ocupam espaços nos cenários da política em âmbito localizado, farejando a necessidade, a vulnerabilidade histórica, econômica, psicológica, emocional, para roerem como alimento apropriado à manutenção do mando.

A necropolítica de Bolsonaro penaliza grande contingente de eleitores arrebanhados por pastores estultos – evangélicos e católicos cabem na mesma carapuça. E muitos adeptos de casas espíritas, enganados por médiuns deslumbrados e fascinados, também colocaram suas digitais autocidas no número 17.

O Nordeste tem aguentado tranco ao longo de toda a sua história, mas o que mais vergou esse povo resistente foi a fome.

A vitória do mal nestas plagas, foi conseguir habilmente colocar o moralismo religioso acima da corporeidade humana, logrando assustar um contingente despossuído de conhecimento formal, que acreditou em lideranças religiosas cegamente.

Esse povo tem uma ontologia de crenças muito vinculada aos chefes locais. Padre Cícero Romão Batista é a prova disso, entre outros beatos do passado. Nesse nicho já formado, o evangelismo entrou com força, e não se tornar evangélico virou sinônimo de solidão.

A igreja católica luta para reaver o rebanho migratório, mas o sucesso vem xoxo.

As casas espíritas crescem mais nas capitais. Nos rincões interioranos reinam as mais fantásticas denominações de igrejas neopentecostais, e os políticos conseguiram a habilidade de esticar os pés em múltiplas investidas, estando em cada território de fé, inclusive nas casas de matrizes africanas.

Simbiose complexa e eficaz na perspectiva do domínio de currais eleitorais, a fé e a fome, voltaram a correr soltas pelo Nordeste.

2020 não será o ano da esperança para este povo.

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