BLOG

17 de julho de 1997, a Bastilha alagoana

Alagoas tem caminhos próprios e fiéis ao ethos que lhe forma, sempre inclinado ao sentido daquilo que convém seja dito, registrado, historicizado, historiografado, ao gosto do poder de última hora, que na verdade, é aquele que sempre esteve.

Todo processo de libertação que lhe rasga as linhas do tempo, emerge da força. Neste ínterim são construídas as narrativas. São permitidas algumas relações imagéticas traduzindo o campo dos interesses populares, como verniz claríssimo, que tonifica discursos democráticos, mas está sempre florindo em camadas insustentáveis de força política.

Na base estão as outras forças. Aquelas que segregam alternativas e conchavam saídas, reunindo impactos que não cheguem a perturbar a ordem que lhes garante continuidade.

Assim criamos a nossa própria “queda da Bastilha” no dia 17 de julho de 1997.

Derrubar o então governador Divaldo Suruagy (PMDB) parecia o soar das trombetas, anunciando o fim da era de flagelos pela qual ele seria o único responsável, e nesta perspectiva, sem o qual, significaria um novo tempo político para o estado de Alagoas.

Não haveremos de menosprezar os efeitos caóticos do período na vida de milhares de trabalhadores e trabalhadoras vinculados de algum modo ao funcionamento da máquina pública, que ainda hoje é responsável pela sobrevivência alimentar de milhares de alagoanos.

O desequilíbrio instalado entre os segmentos militarizados, foi o estopim que acendeu a bomba na frente da Assembleia Legislativa, na Praça Dom Pedro Segundo, no centro de Maceió, transformando a renúncia de Divaldo Suruagy em um feito político marcado por tensões e disputado em narrativas de vitórias populares, as quais analisamos sem empolgação.

O elemento militar alagoano não tem histórico de lutas populares. A tensão estabelecida foi também uma peça do jogo, para afastar a referência que já não importava ao tabuleiro institucional vigente, sempre com longos históricos de vitórias.

A saída de Suruagy não significou a entrada do povo no poder.

Ao contrário, reacendeu neste a esperança no próximo bastião político partidário, que em nenhum aspecto pactuava com as lutas populares.

Assim sendo, o fenomênico, por si, não dá conta de uma história de lutas, pois as forças ocultas seguem dando as cartas e as cartadas, sem admitir perder o jogo.

Não alimentar ilusões é a única maneira de diminuir o poder institucionalizado, e neste quesito, Alagoas segue arrastando as multidões por um mísero salário, sem referências de glória nas lutas populares, que continuam sendo oprimidas, e sempre que insistem em ganhar força encontram barreiras judiciais e militares para conduzir o povo ao leito comum.

O poder segue fortalecendo o poder em Alagoas, mesmo quando parece perder, está ganhando sobre o povo.

Neste momento em que a direita oligárquica brinca de jogar dados eleitorais, aquele 17 de julho de 1997 é apenas uma amostra do lado que sempre perde nesta conjuntura arcaica.

Salve os sobreviventes de todos os governos que esta terra já teve e ainda tem, pois estes merecem a homenagem de recusar morrer de fomes.

 

SOBRE O AUTOR

..