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Xadrez de Arthur Lira derruba máscara de grande democrata

O tempo é o maior inimigo, hoje, de Arthur Lira, presidente da Câmara. E Lula sabe disso.

Lira aperta o governo para que ele “cumpra acordos”- liberar dinheiro das emendas para a turma do centrão.

Lira não é apenas ele. Mas sim o representante de um grupo. Grupo que há décadas é eleito e reeleito no Congresso. Foi ganhando força e poder. E ajudou a eleger seu representante: Bolsonaro.

O ex-presidente liderava um circo da morte. Entre bravatas e piadas, matou 700 mil pessoas na pandemia. Há provas de que ele adiou a compra de vacinas. Enquanto se fingia de palhaço, Bolsonaro deixava a turma dos negócios- o centrão- com mais cargos, poder e dinheiro.

O centrão elegeu Arthur Lira, o terceiro na sucessão presidencial da República. Lira quis e quer a implantação de um parlamentarismo de araque, onde quem manda é o Congresso e o povo é um penduricalho.

É um exemplo único no planeta. Uma democracia sem o povo.

Só que Bolsonaro, mesmo com tentativa de golpe e tudo mais, não se reelegeu. E Lula é uma liderança política reconhecida no mundo. Isso atrapalha a turma dos negócios.

2024 é o último ano de Arthur Lira na presidência da Câmara. E quanto mais o tempo passa, seu poder está em queda livre e mudando de mãos. Lira quer eleger um aliado, Lula não apoia; Lira quer mais cargos, agora o Ministério da Saúde; Lula recusa.

O deputado ameaça travar o país, adiando a aprovação de projetos do governo.

Segundo a pesquisa Atlas Intel, feita no fim de janeiro, Arthur Lira é o mais rejeitado entre todas as principais lideranças políticas do país. Lula é o mais bem avaliado.

Lira não se importa nem com a popularidade nem com a opinião pública. Ele sabe que tem votos suficientes para se eleger ao Senado daqui a 2 anos. Não faz campanha, mas tem prefeitos. E em 2026 serão dois senadores eleitos.

Só que quando deixar o comando da Câmara, ele corre o risco de perder as indicações do governo federal em Alagoas, sua base eleitoral. Estamos falando da Chesf (foto), DNOCS (foto), CBTU (foto), INCRA (foto), Caixa Econômica Federal (foto), onde o dinheiro público brota por todos os poros. E estes cargos tendem a ser ocupados por aliados de Lula. Principalmente o maior rival de Lira: Renan Calheiros.

Quem ocupa todos estes cargos em Alagoas? Familiares do deputado. É o familismo histórico, herdado de Portugal, onde os parentes têm tudo e o resto do mundo, as sobras ou nada. Lira, poderoso latifundiário, quer o retorno de um Brasil antigo, rangendo como os apodrecidos engenhos de açúcar, como se vivêssemos em uma fazenda cheia de escravizados.

Como dissemos, Lira não existe sozinho. Além do centrão, uma enorme rede ajudou a limpar sua ficha na política, desde o Tribunal de Justiça de Alagoas até o Supremo Tribunal Federal. As investigações sobre o kits de robótica superfaturados, por exemplo, foram arquivadas pelo STF.

Tudo explícito.

Então, o deputado, também explicitamente, exibe todo o seu poder, enquanto ainda tem. Além de querer mais dinheiro, exige de Lula, desde já, apoio ao escolhido pelo deputado na sucessão do legislativo. E Lula estica a corda para ganhar tempo, enfraquecendo Lira.

Quando Lula sancionou o orçamento, vetou 5,6 bilhões de reais em emendas parlamentares. E aprovou 47,4 bilhões para o Congresso gastar como quisesse. E gastar como o diabo gosta: pouca transparência, obras de qualidade, reputação e utilidade duvidosas espalhadas em currais eleitorais e num ano de eleição.

O centrão precisa de cargos e bastante dinheiro para eleger prefeitos e vereadores pelo país.

Lula sabe que nem sempre estes prefeitos e vereadores garantirão votos para a sua reeleição porque a “fidelidade” está mais restrita a Brasília. Fora das muralhas da fortaleza do poder central, ninguém é dono de ninguém. E traição não é pecado.

Lira está nestas brechas. E mostra insatisfação. Não apareceu no evento Democracia Inabalada- um ano do quebra-quebra em Brasília – nem ao início do ano legislativo no STF muito menos à posse de Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça.

A máscara de grande democrata, exibida por Lira, vai aos poucos caindo.

Também neste jogo está a seguinte posição do deputado: ele é contra a instalação, pelo Senado, da CPI da Braskem. Cinco bairros de Maceió foram afetados pela mineração da empresa. Durante anos, Arthur Lira ignorou uma das maiores tragédias ambientais em curso no mundo e no seu Estado-natal. Depois de muita pressão, e no ano passado, ele falou que conversaria com o governo para liberação de dinheiro na construção de casas populares aos desabrigados e desalojados.

Era só bravata. E as casas? Apenas promessa de político.

Se isso é cruel? Lembremos os 700 mil mortos na pandemia. Quem era o presidente da Câmara nesta época? Arthur Lira. Quem sentou em cima de mais de uma centena de pedidos de impeachment contra Bolsonaro? Arthur Lira.

O deputado é a alma e a voz do mercado, uma instituição poderosa, escondida e que manda bastante.

E tem um centrão sem delongas. E cheio de apetite.

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