Veja X Collor: Gazeta tem 'baixa qualidade dos textos', diz revista

A queda de braço entre o senador Fernando Collor (PTB) e a revista Veja (ou da Veja contra Collor) tem mais um
capítulo: o revide da revista de maior circulação no País.

Desta vez o alvo não é Rosane Collor (hoje Malta). Ou o passado de Collor na presidência da República. E sim a Gazeta de Alagoas, chamada de jornal de “baixa qualidade”, feita de “material comprado de agências de notícias”, publicados na íntegra, “sem retoques nem correções”. Ver aqui

“A julgar pela baixa qualidade dos textos, é provável que o agora caçador de jornalistas não leia o que é publicado nas páginas que controla. O material comprado de agências de notícias é publicado na íntegra, sem retoques nem correções. O mensalão não é tão menosprezado quanto no diário maranhense, mas está longe de alcançar o espaço merecido”, diz a revista.

Motivo: a Veja classifica o julgamento do mensalão como “o maior da história do Brasil”. Só que nem a Gazeta nem o Estado do Maranhão- da família Sarney- estariam dando espaço maior (ou para a revista, merecido) ao assunto. Privilegiam, segundo a publicação, assuntos locais.

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Em 31 de julho, uma terça-feira, os principais jornais do país reservaram a manchete da edição ao início iminente do mais importante julgamento da história do Brasil. “Supremo se articula para evitar atraso no mensalão”, anunciou na primeira página, por exemplo, a Folha de S. Paulo. No mesmo dia, o Estado do Maranhão, oitavo maior jornal do nordeste, optou por outro assunto: “Retomada da licitação para obra na BR-135 é autorizada”. Disfarçada de notícia relevante, a informação sobre a rodovia que interliga as regiões sul e sudeste ao norte e nordeste serviu de pretexto para louvar o que teria sido uma “vitória para a bancada maranhense no Congresso Nacional e para o Governo do Estado”.

No dia seguinte, o Globo tratou do mensalão em quatro páginas, uma das quais dedicada a José Dirceu, denunciado como chefe da quadrilha por dois procuradores-gerais da República. Para a Gazeta de Alagoas, que distribui 12 mil exemplares em dias úteis e 20 mil aos domingos, muito mais importante foi a absolvição do prefeito de Delmiro Gouveia, Luiz Carlos Costa, acusado de planejar a morte de um vereador. O julgamento que começaria no dia seguinte foi comprimido em um quarto de página.

Comandadas pelos ex-presidentes José Sarney e Fernando Collor, as duas publicações obedecem a uma espécie de controle social da mídia que leva em conta não os interesses dos leitores, mas as conveniências dos donos. Se não recorrerem a outras fontes de informação, maranhenses e alagoanos pouco ou nada saberão do que se passa no Brasil real.

Em 2 de agosto, o Estadão tratou em oito páginas do começo do julgamento e reproduziu no alto da página uma frase de Roberto Gurgel: “Fazer justiça é condenar a todos”. Na edição do Globo, o mensalão mereceu seis páginas e a manchete principal: “Réus sofrem derrota na véspera do julgamento”. Coerentemente, o Estado do Maranhãocontinuou a percorrer a mesma estrada. O mensalão perdeu de longe para o noticiário sobre a licitação na BR-135 e empatou em centimetragem com a Semana de Amamentação. O editorial, de novo, exaltou os esforços da governadora Roseana Sarney para livrar os maranhenses da pobreza.

A herdeira da capitania hereditária é a figura dominante no diário da família. Em 24 de maio, enquanto o Estadão se alarmava com a lentidão paquidérmica do governo federal ─ “Só  5% das obras da Copa estão prontas”, constatou a manchete ─, seu similar maranhense destacou a inauguração de uma via pavimentada. Quem lê apenas oEstado do Maranhão tem a sensação de que Roseana Sarney está em campanha permanente para disputar a presidência da República.

Na Gazeta de Alagoas, Fernando Collor não é tão incensado quanto Roseana noEstado do Maranhão. A julgar pela baixa qualidade dos textos, é provável que o agora caçador de jornalistas não leia o que é publicado nas páginas que controla. O material comprado de agências de notícias é publicado na íntegra, sem retoques nem correções. O mensalão não é tão menosprezado quanto no diário maranhense, mas está longe de alcançar o espaço merecido.

Em ambas as publicações, prevalece a orientação dada por Antônio Carlos Magalhães na primeira reunião com os editores do Correio da Bahia: “Eu só quero que vocês gostem de mim”. Os funcionários de Sarney e Collor foram um pouco mais longe. Pelo que se lê, eles amam seus patrões.

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