Um retrato de Alagoas na economia internacional

Raul Manso

O ano de 2022 tem sido extraordinário. Além das indefinições internas acerca do nosso futuro como nação, o cenário internacional não tem sido de bonanças: uma guerra no meio da Europa tem afetado fortemente a dinâmica da política entre as nações e, por conseguinte, a economia mundial, cuja inflação generalizada tem sido a sua grande marca. Ademais, ainda estamos sentindo os efeitos das restrições pandêmicas sobre as cadeias globais de suprimento.

Em meio a tudo isso, costumamos acompanhar notícias afora e quiçá nos esqueçamos do que acontece onde vivemos. Perante tantas mudanças, tantas reviravoltas, este é um momento oportuno para observar como a economia de Alagoas se insere no cenário contemporâneo. Findo o primeiro semestre do ano, as estatísticas de comércio exterior podem-nos dar um valioso retrato da economia estadual.

Primeiramente, negocia-se em maior quantidade com grandes economias. Alagoas tem a China como maior parceiro comercial, correspondendo a mais de um quinto de suas transações comerciais internacionais. Logo em seguida vêm os Estados Unidos, com 10,7%, o Canadá, com 6,85%, e a Argélia, com 6,24%, esta última o primeiro parceiro comercial dos países em desenvolvimento que figuram entre os maiores parceiros do estado.

Tivemos uma valiosa recuperação das exportações alagoanas se as compararmos ao primeiro semestre do ano passado. A quantidade de exportações aumentou 46%, um resultado muito bem-vindo dadas as dificuldades recentes do comércio internacional. Contudo, Alagoas tem somente 0,2% de participação no total exportado pelo Brasil nesse semestre, uma baixíssima expressividade, sendo o 21º no ranking nacional.

Podemos também destrinchar o que compõe essas exportações. A indústria de transformação é, de longe, o setor líder da pauta dos bens exportados: 78% são somente de produtos relativos a açúcares e melados, um forte indicativo de como a indústria sucroalcooleira alagoana é dominante no estado. Por outro lado, hidrocarbonetos e materiais de construção de argila compõem 1,6% cada do total exportado. Em conjunto, os três ramos são a indústria de transformação alagoana com participação internacional relevante em termos quantitativos. Além do mais, a indústria extrativa abarcou 14% do que se exportou no semestre, concentrando-se em minérios de cobre e seus concentrados.

Com isso, Alagoas esteve em seu maior patamar de exportações nos últimos cinco primeiros semestres dos anos anteriores.

Por outro lado, as suas importações são diversificadas. Cerca de 89% é de produtos da indústria de transformação, variando de adubos e fertilizantes químicos, máquinas de energia elétrica e até mesmo tecidos. As importações do primeiro semestre desse ano correspondem ao dobro do mesmo período do ano anterior. Isso pode indicar um aquecimento da economia local, tanto pela parte do consumo das famílias como pela demanda de insumos das indústrias locais, sejam elas dos próprios setores sobressalentes (sucroalcooleiro) ou mesmo das etapas de montagem de manufaturados no estado. Deveras, em 2021 a economia alagoana cresceu 7,7%, um resultado alto se comparado à média nacional.

Em suma, Alagoas terminou o semestre como deficitária na sua balança comercial. Em outras palavras, importou mais que exportou. Seu déficit corresponde a mais de um terço do total de exportações no mesmo ínterim. Por ora, na medida em que não há como emitir um juízo de valor sobre esse resultado, devemo-nos centrar em outro aspecto que realmente define a participação de Alagoas no comércio internacional no longo prazo: a sua estrutura produtiva.

Sabe-se que o Brasil como um todo tem uma dependência recrudescente do setor agropecuário em seu comércio exterior e também interior. Com Alagoas, a dependência figura historicamente nas planilhas. A indústria açucareira no estado continua na liderança econômica local, com baixa diversificação produtiva. Embora o seu tamanho tenha seus benefícios para a economia alagoana, há alguns apontamentos que devem ser salientados.

Primeiro, a regra geral é que bens agrários, transformados ou não, têm menor valor adicionado que outros produtos com maior intensidade tecnológica. Em outras palavras, ganha-se mais, por exemplo, produzindo computadores em vez de laranjas. O rendimento não é somente dos empresários: toda a economia é beneficiada. Qualquer processo de transformação depende da contratação de mão de obra, da compra de equipamentos e da aquisição de insumos. O enriquecimento de um local depende diretamente do que ele produz, e quanto maior a complexidade embutida no produto, maior o seu preço.

Uma economia com baixa diversificação produtiva está sujeita às oscilações dos preços deste bem no mercado internacional. Embora haja formas técnicas de criação de cenários para este fim, especializar-se em bens agrícolas, ou mesmo em commodities, acarreta a maior imprevisibilidade de seu faturamento no longo prazo. Ou seja, é maior a probabilidade de descartar planejamentos. Ainda, empresas que atuam em mercados de bens com menor complexidade possuem menor poder de mercado, tornando-se mais difícil cobrar o preço que deseje no mercado internacional.

Eis o retrato da inserção internacional da economia de Alagoas: uma predominância de bens transformados de baixa complexidade com uma única fonte primária. Economistas têm alertado para esse estado da economia local há décadas devido à sua suscetibilidade às oscilações internacionais. Assim como nunca se sabe quando o seu maior parceiro comercial ficará impossibilitado de continuar comprando seus produtos, também não é possível saber quando emergirá uma guerra, ou mesmo quando terminará. Afinal, a proeminência de uma indústria dita o ritmo da economia que ela domina.

.