Tempo de prevenir o câncer

Recente estudo publicado na conceituada revista "Science Translational Medicine" aborda dezenas de pesquisas internacionais sobre as causas dos tumores que são mais letais em todo o Planeta, chegando à conclusão de que mais da metade dos casos registrados poderia ter sido tratada precocemente ou, mesmo, evitada de todo

Diário do Nordeste

São alarmantes as taxas de mortalidade em decorrência do câncer, estigma que não distingue os níveis de civilização dos países para se fazer presente. A ameaça se encontra, sempre em linha ascendente, tanto em nações ricas como nas mais pobres, englobando, por conseguinte, aquelas em vários estágios de desenvolvimento econômico indistintamente.

Cerca de 300 mil pessoas morrem no Brasil, a cada ano, vitimadas pela doença, enquanto mais de 800 mil casos aparecem anualmente. Um lamentável detalhe faz a diferença, para pior, em relação às regiões menos favorecidas economicamente, ou com programas assistenciais pouco eficazes: por falta de recursos assistenciais, os brasileiros morrem antes do que os doentes de países como os Estados Unidos, quando vitimados pelo mesmo tipo de câncer.

Recente estudo publicado na conceituada revista “Science Translational Medicine” aborda dezenas de pesquisas internacionais sobre as causas dos tumores que são mais letais em todo o Planeta, chegando à conclusão de que mais da metade dos casos registrados poderia ter sido tratada precocemente ou, mesmo, evitada de todo. Afirma o referido estudo estar mais do que em tempo de a Ciência pressionar os responsáveis pela saúde, desde a célula do município até a abrangência de um país, para que sejam implantadas imprescindíveis medidas preventivas com o objetivo de fazer diminuir os desoladores índices ora aferidos.

A conclusão principal aponta que um dos importantes caminhos a ser percorrido, para deter os presentes malefícios, pode ser construído através de simples atitudes no tocante à mudança de hábitos, entre as quais se incluem a abolição do tabagismo, a alimentação saudável e o costume de exercitar o corpo regularmente. Constatou-se que o fumo é responsável por mais de um terço dos casos fatais, enquanto a obesidade causa outros 20%.

Um curioso item detectado pelas mencionadas pesquisas acusa que o principal obstáculo para o êxito das campanhas, realizadas no sentido de se evitar doenças e melhorar a qualidade de vida, é o ceticismo preponderante em quase todos os segmentos das populações, os quais acreditam ser absolutamente impossível evitar o câncer. Essa dúvida decorre, em grande parte, do fato de as medidas preventivas já adotadas surtirem efeitos ainda muito lentos, que se fazem sentir apenas ao longo de alguns anos e, até mesmo, em décadas.

Também se ressalta que tais medidas têm como alvo, sobretudo, a população adulta, atingindo em bem menor escala os mais jovens e, em consequência, obtendo menores resultados no cômputo geral. Com os avanços clínicos, alguns tipos de câncer já podem ser tratados com procedimentos médicos menos invasivos, desde que tenham recebido diagnóstico precoce e o atendimento médico tenha sido eficiente.

O Ministério da Saúde anunciou nesta semana que destinará R$ 500 milhões para ampliar os serviços de radioterapia no País no decorrer dos próximos cinco anos, o que permitirá o acesso de quase 30 mil pacientes ao tratamento. No Norte e Nordeste, serão criados 48 centros desse serviço e modernizados 32 que já estão em funcionamento.

Por mais esforço que se faça, o câncer não vai ser extirpado como uma epidemia, porque está relacionado ao processo de envelhecimento humano. Mas se pode obter controle sobre sua gênese e evolução, minorando o sofrimento da vítima e adiando-lhe a morte, através de investimentos também em pesquisas que visem à prevenção da doença.

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