BLOG

Quem liberou o estuprador? Hegemonia masculina mata mais uma

Não é somente uma notícia! É também um grito estapafúrdio de dor e indignação, a cada corpo de menina feito pasto pela incontida fome que o machismo, o patriarcalismo e o cinismo de uma sociedade conivente, permitiu ao macho possuir e liberar sobre as vítimas.

De acordo com matéria assinada por Eliana Nascimento, do G1 AM, Aline Alves Melo foi encontrada morta por asfixia, tendo sido dopada e estuprada por um tio paterno.

Parece que a “profecia” se repete: parentes, pessoas próximas que detém a confiança da menina/mulher são os potenciais estupradores!

A indignação no entanto, deve ir mais longe: que mecanismo interno permite ao recebedor da confiança acionar esse perverso gatilho?

Por que eles acreditam que podem fazer “qualquer” coisa para obter prazer sexual com um corpo que se lhe nega este tipo de contato?

O estupro se torna uma cultura entre os homens que não se negam a realização de uma vontade, mesmo que precise destruir o corpo cobiçado.

A voz de uma amiga na postagem sobre este caso me chamou a atenção, e aqui reproduzo a fala de Marcia Torres:

“Como destaca Valeska Zanello em suas pesquisas, ‘a construção da masculinidade na cultura brasileira passa por uma “não aprendizagem da renúncia sexual e da frustração de seus desejos (para muitos, trata-se de um direito).’

A representação que se firmou foi, portanto, a de que os ‘instintos sexuais dos homens são ativos, ‘naturais’, insaciáveis e fora da possibilidade de domínio, controle e renúncia”.

E assim, pais, padrastos, tios, irmãos, padres, pastores sentem- se autorizados a violar os corpos de meninas.
É preciso dizer que 90% dos estupros de meninas de 5 a 9 anos acontece dentro de casa, cometido por alguém que tem vínculo afetivo com a criança.

Essa é, para mim, uma das grandes lacunas no documentário sobre masculinidades.

Se na nossa cultura os homens são silenciados em relação a expressar a sua afetividade, eles são profundamente estimulados a dar vazão aos seus “impulsos sexuais”, a qualquer preço, a qualquer custo.

Esse é um dos aspectos mais detestáveis da masculinidade hegemônica na nossa cultura.

E é necessário falar sobre isso.’

É urgente que as famílias brasileiras encarem os potenciais pedófilos e estupradores dentro de suas casas!

É urgente afirmar e reafirmar aos homens que a realização de seus desejos sexuais estão condicionados à concordância da mulher!

É urgente afirmar e reafirmar aos homens que seus desejos sexuais por bebês, crianças e adolescentes tem que ser reprimidos e frustrados!

Precisamos falar sobre a construção da masculinidade nesse país!”

Voltando à matéria do G1, encontramos a informação de que o tio paterno insistiu em levar a sobrinha para ver a avó da menina que estava internada, e Aline não queria ir. Seria a primeira noite em que ela dormiria na casa dele.

O uso de remédio para facilitar o domínio do corpo, não impediu que Aline acordasse durante o ato e tentasse lutar contra o tio. Teria então vomitado, e morreu asfixiada com o próprio vômito.

Preso por crime de feminicídio e estupro, mais um macho falido em humanidade receberá assistência do Direito e seguirá sua história.

Aline, já é uma a menos. Esse dado não reverte.

Precisamos continuar falando sobre estupro, sim! Pois se os lares são os ninhos geradores da hegemonia masculina que pode reverter em inaptidão para lidar com a frustração de um desejo sexual criminoso, os lares precisam ser abalados pelas vozes de quem não admite nem uma a menos.

SOBRE O AUTOR

..